terça-feira, 9 de julho de 2013

ESPIONAGEM

Tio Sam na frigideira
09/07/13 08:45 | Octávio Costa - Chefe de Redação do Brasil Econômico
A notícia está correndo mundo. Pelo menos até 2002, Brasília foi sede de uma estação da Agência de Segurança Nacional (NSA) e da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) para espionagem por meio de coleta de informações transmitidas por satélites.
Estima-se, segundo informou "O Globo", que na última década a NSA teria espionado milhões de telefonemas e mensagens de pessoas em trânsito ou com residência no Brasil. A revelação teve forte repercussão no Planalto.
O governo Dilma pediu explicações à Casa Branca e mandou abrir investigação sobre a participação de empresas de telecomunicação sediadas no país.
O jornalista Glenn Greenwald, que publicou em primeira mão no "The Guardian" as denúncias de Edward Snowden, ex-agente da CIA e da NSA, sobre o software que dá acesso a e-mails, chats e chamadas de voz na internet, acredita que o alvo não seriam exatamente cidadãos brasileiros.
Segundo ele, com a base em Brasília, a inteligência norte-americana teria acesso a informações da China. "Estamos coletando o trânsito do Brasil não porque queremos saber o que um brasileiro está falando com outro brasileiro, mas porque queremos saber o que alguém na China está falando com alguém no Irã, por exemplo".
Greenwald merece crédito, pois tem acesso aos arquivos de Snowden. Mas sua versão sobre a operação triangular se sustenta em parte. Não consegue explicar o grampo na embaixada do Brasil em Washington e no escritório nacional na ONU, em Nova York, comprovados em cópia de documento em poder de Snowden.
Das 16 bases da NSA pelo mundo, desde Nova Déli, na Índia, até Darwin, na Austrália, apenas uma operava na América Latina: exatamente a de Brasília. Isso evidencia o enorme interesse dos órgãos de inteligência dos EUA pelas informações coletadas no Brasil.
Interesse, por sinal, que já havia sido revelado na esteira do caso Wikileaks, que apontou grampos no Itamaraty. Washington está com suas antenas ligadas não apenas em possíveis focos da Al Qaeda na Tríplice Fronteira, em Foz do Iguaçu, e nas riquezas da Amazônia. Como ressalta a denúncia, " os satélites comerciais são usados por governos estrangeiros, organizações militares, empresas, bancos e indústrias".
Logo, também é de grande valia o acesso à estratégia de empresas brasileiras de grande porte que concorrem com gigantes norte-americanas.
A rede de espionagem da NSA, em si, não surpreende. Os documentos de Julian Assange tinham mostrado mais do que uma ponta de iceberg. Países desenvolvidos como a França e a Grã-Bretanha também espionam comunicações de países amigos e inimigos. O que o Brasil tem a fazer, na opinião de especialistas, é estabelecer uma estratégia de informática que proteja dados e informações, "desde os formatos básicos até os mais sofisticados".
O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães é taxativo: "O Brasil precisa reduzir a vulnerabilidade em seu sistema de comunicações, inclusive com satélite". O governo Dilma tem razão em botar a boca no trombone e cobrar explicações da Casa Branca e da embaixada dos EUA em Brasília.
Mas deve pensar a questão da segurança de seus cidadãos e empresas para além da denúncia de Snowden. É urgente investir em tecnologia de ponta e criar mecanismos que garantam o sigilo de dados na internet.
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Octávio Costa é chefe de redação do Brasil Econômico