segunda-feira, 15 de julho de 2013

CHINA

Análise: PIB chinês não ajuda a melhorar expectativas no médio prazo
LUCIANA COELHO
EDITORA-ADJUNTA DE "MERCADO"
O fato de o avanço de 7,5% do PIB chinês não ser pior do que o esperado --ou ser ligeiramente melhor do que as expectativas que o governo em Pequim atabalhoadamente tentou baixar nos últimos dias-- não é suficiente para animar prognósticos cada vez piores para a lenta recuperação global.
O Brasil, especificamente, tem razões para se preocupar.
Nos últimos três anos, a sombra da desaceleração chinesa pairou sobre a percepção que investidores e analistas (sobretudo estrangeiros) têm do país, dada a crescente fatia que as compras de minérios e outras commodities por Pequim representa na balança comercial e no crescimento brasileiros.
Antes de o efeito concreto bater na balança, portanto, bate uma espécie de ressaca às avessas no mercado, motivada por essa percepção.
Da série de gráficos apresentados nesta segunda-feira pelo jornal "Financial Times" sobre o PIB chinês, um deles, produzido pela consultoria Haver Analytics, ilustra o problema.
Atrás de Rússia e Indonésia, o Brasil, seguido pela Índia, é o pais que arcou com a pior desaceleração em suas vendas à China entre os 12 meses encerrados em fevereiro do ano passado e os 12 que decorreram de lá até fevereiro deste ano.
As importações vindas da Rússia e da Indonésia, porém, continuavam crescendo, ainda que menos. Já as brasileiras (e indianas, da zona do euro, do Japão e de outros 3 países, de 17 compilados) encolhem. Só os americanos, cujo ritmo de recuperação estabilizou, mantiveram o equilíbrio.
O Fundo Monetário Internacional já chamou a atenção para o problema ao reduzir, na semana passada, suas expectativas para o crescimento global e botar, pela primeira vez desde a eclosão da crise em 2008, a culpa nos emergentes.
Segundo o FMI, 2013 não será melhor do que 2012 - a recuperação está aquém do esperado. Analistas de mercado veem um quadro mais turvo. O crescimento chinês a dois dígitos pertence a outra era e, por se tratar da segunda economia do mundo, qualquer perda de fôlego se faz sentir mundo afora.
Se a atribuição de responsabilidades pelo Fundo é inédita neste pós-crise, seu alerta não é: é preciso que os chineses poupem menos e gastem mais (ainda no último trimestre, o crescimento foi mais puxado por investimentos, dentro de um sistema financeiro incipiente, do que pelo consumo).
Pode até ser a melhor saída, mas é uma saída tortuosa. Esbarra, afinal, não só em política econômica, mas nos hábitos culturais de 1,3 bilhão de pessoas.