quarta-feira, 20 de maio de 2015


A inflação e a abóbora

Pesquisa de opinião no Rio mostra que a popularidade de Lula e Dilma oscila de acordo com a percepção sobre a alta dos preços

Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

Na abertura de seu blog ontem, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia, hoje vereador, faz um corte importante ao analisar a recente pesquisa do instituto GPP sobre a avaliação do governo Dilma Rousseff. Ele mostra que a expectativa sobre a inflação exerce forte influência na opinião dos eleitores do Rio de Janeiro. Na média geral, 71,6% dos entrevistados dão conceito ruim ou péssimo para a atual gestão e 7,6% ficam com ótimo e bom. Mas quando se faz o cruzamento com a percepção a respeito da taxa de inflação, os resultados se alteram de forma significativa. A inflação, conclui Cesar Maia, não afeta apenas a imagem de Dilma Rousseff: faz estrago também no índice de popularidade do ex-presidente Lula, a esta altura o candidato mais provável do PT para a eleição de 2018. Até mesmo na opinião de Fernando Henrique Cardoso, “o PT não tem outra alternativa do que Lula”.

Tanto Lula quanto Dilma oscilam ao sabor da preocupação dos entrevistados com a alta dos preços. Os que acham que a inflação anual é superior a 10% são os mais críticos em relação ao governo: 4,8% consideram-no bom e ótimo, e 78%, ruim e péssimo. Já aqueles mais otimistas, que veem a inflação em torno de 5%, são bem mais generosos com a presidente. Para 23% deles, o conceito de governo da petista é ótimo e bom, enquanto a cotação ruim e péssimo cai para 46% do total. Pode-se concluir, portanto, como faz o ex-prefeito e especialista em pesquisas, que “a inflação no Rio está tirando uns 30 pontos da avaliação de Dilma” (pois a opinião negativa sobe de 46% para 78%).

Quanto à corrida presidencial, muita água vai rolar nos próximos anos. Está muito longe. Mas, considerando os humores de hoje, a pesquisa GPP aponta Aécio Neves à frente com 26,8% de intenções de voto do eleitorado do Rio, contra 24,9% de Marina Silva e 19,4% do presidente Lula. Tudo muda de figura, porém, quando se leva em conta a expectativa de inflação. Entre os que acham que a alta dos preços está próxima de 10% ao ano, a preferência por Aécio sobe para 33,9%, Marina também vai a 26,5%, mas Lula cai para 15,6%”. Tudo fica diferente no grupo dos que consideram que a inflação ainda não passou de 5%. Neste caso, Aécio tem 18,1%, Marina 17,1% e Lula assume a primeira posição, com 41,4%.

Pelo zigue-zague dos eleitores, é possível concluir que o quadro é bastante instável. E vai depender, sem dúvida, do desempenho da economia. Se a inflação baixa favorece o PT, a oposição cresce na exata medida do comportamento dos preços. A ambos os lados, vale lembrar que a política é volátil e costuma pregar surpresas. O favorito de hoje pode cair em desgraça amanhã. Se alguém duvida, vale a pena olhar com atenção uma foto que a “Folha de S.Paulo” publicou na edição de ontem. No registro histórico, a princesa Isabel aparece num palanque, quatro dias depois de promulgar a Lei Áurea, cercada de ministros, militares e personalidades abolicionistas (Machado de Assis também estava lá). Era 17 de maio de 1888 e o ato que celebrou o fim da escravidão reuniu mais de 30 mil pessoas no Campo de São Cristóvão, cerca de 10% da população da cidade.

Um ano e meio depois, a Princesa Isabel saiu escorraçada do país. Embarcou na calada da noite na Praça XV e nunca mais voltou. Como seu pai, morreu no exílio. Assim é a política. A abóbora pode se transformar em carruagem e a carruagem em abóbora. Em questão de meses.