segunda-feira, 11 de maio de 2015

Joaquim Levy vai à guerra
O ministro da Fazenda se inspira no general George Marshall. Resta saber se terá razões para comemorar o seu Dia da Vitória
Octávio Costa ocosta@brasileconomico.com.br
Vale a pena ler o artigo que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, publicou no dia 8 de maio, quando foram comemorados os 70 anos do fim da II Guerra Mundial. Sob o título “O exemplo do general Marshall”, ele homenageou o militar que, no cargo de chefe do Estado-Maior do Exército dos Estados Unidos, expandiu a indústria bélica e a Força Aérea americanas, além de exigir prioridade à modernização das tropas. Levy segue os historiadores que atribuem a George Marshall o mérito pela vitória dos EUA no combate aos nazistas. “O general Marshall anteviu a necessidade de o seu Exército estar preparado para defender o país bem antes de ele ser atacado. Já antes do início do conflito na Europa, ele alertou o presidente americano da imperiosa urgência de reorganizar e dar meios àquela força”. Na opinião do ministro, Marshall é um bom exemplo da combinação dos elementos essenciais para atingir objetivos, a saber: “Planejamento, persistência, gestão de pessoas e alinhamento com os princípios da missão.”
Ao concluir seu texto na “Folha”, Levy afirma que “parece mais atual do que nunca o exemplo desse general que declinou as posições mais visíveis no seu Exército para garantir o seu bom funcionamento e as grandes escolhas estratégicas que lhe trouxeram a vitória”. Marshall, de fato, manteve-se o tempo todo na retaguarda. O Comandante Supremo das Forças Aliadas na Europa foi o general Dwight “Ike” Eisenhower. Depois de chefiar as ações no Norte da África, coube a ele planejar o desembarque na Normandia e a invasão da Alemanha. Por seus feitos, elegeu-se presidente dos EUA por dois mandatos, de 1953 a 1961. Outros dois generais americanos também se destacaram na zona de guerra: Douglas MacArthur, chefe das operações no Pacífico, e George Patton, comandante do 3º Exército na Europa. Este último era carismático, mas prepotente com os subordinados.
Em seu elogio a Marshall, Levy, além de ignorar os demais generais, sequer citou a importância do Reino Unido e da União Soviética no combate às forças de Hitler. Sem a determinação dos britânicos, liderados pelo primeiro-ministro Winston Churchill, a história teria sido diferente. O ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, por exemplo, não esconde a admiração pelo marechal-de-campo Montgomery, que derrotou os alemães na batalha de El Alamein, no Egito, em 1942, obrigando-os a se retirarem do Norte da África. Ele teve aulas em Harvard sobre a estratégia do inglês “Monty”. Quanto à heróica participação dos soviéticos, que derrotaram os nazistas na Frente Oriental, nada justifica a omissão de Levy. Sem o desgaste dos alemães no Leste Europeu, a vitória dos aliados — se viesse — exigiria mais tempo. Vale lembrar que os soldados do general Jukov foram os primeiros a chegar a Berlim, hasteando a bandeira vermelha no Reichstag.
Por que, então, Joaquim Levy preferiu falar apenas do exemplo de Marshall? O motivo é simples: ele quis comparar a tarefa de reorganizar a economia brasileira à missão do general americano. Diz Levy que Marshall mostrou que é preciso ter capacidade de trabalhar em grupo, responder sob pressão e não culpar os outros pela adversidade. Levy não fez um paralelo com a política econômica, mas é óbvio que está se referindo aos próprios desafios. Resta saber se o ministro da Fazenda também terá razões para comemorar o seu Dia da Vitória.