Rosneft quer terminal de
GNL no Solimões
Petroleira russa
diz que tecnologia é a alternativa mais viável para escoamento de reservas de
gás na Amazônia, que foram compradas semana passada da PetroRio
Nicola Pamplonanicola.pamplona@brasileconomico.com.br
A tecnologia de gás natural liquefeito ou uma eventual conexão de
térmica a rede de distribuição em Manaus são as alternativas em estudo pela
russa Rosneft para o desenvolvimento das reservas de gás recém adquiridas da
PetroRio (ex-HRT), na Bacia do Solimões. A empresa pagou R$ 55 milhões para
assumir a totalidade das concessões e espera ter uma melhor definição para o
futuro dos projetos em dois ou três anos, quando concluir o prazo
exploratório.A operação, que garantiu à russa a totalidade dos projetos, foi
fechada na semana passada.
As concessões estão perto do município de Carauari, a 780 quilômetros de
Manaus em linha reta pela floresta amazônica, o que praticamente inviabiliza a
construção de um gasoduto até o principal mercado consumidor da região. A
Petrobras opera a província gasífera de Urucu na vizinha Coari e entrega gás em
Manaus por meio de um gasoduto Urucu-Coari-Manaus, de 660 quilômetros, mas são
poucas as chances de conexão às reservas da Rosneft. A Petrobras tem
descobertas perto das concessões da petroleira russa e as duas empresas estudam
uma estratégia conjunta para o escoamento da produção.
A Rosneft informou ao Brasil Econômico que as duas principais
alternativas, no momento, são a construção de uma planta de liquefação de gás
natural (processo de resfriamento do combustível a 162° negativos) para
transporte em navios até mercados consumidores ou a construção de uma térmica
perto dos poços produtores (conhecida como gas to wire, o gás para o fio).
“Ambas são tecnologias viáveis e os estudos compreendem a construção de um
gasoduto e o escoamento fluvial”, diz a Rosneft.
O gasoduto em questão poderia ligar as reservas a um terminal fluvial de
gás natural liquefeito (GNL), que, segundo fontes, pode ser construído às
margens do rio Solimões — uma vez que o rio mais próximo, o Juruá, é
extremamente sinuoso, o que tornaria a viagem muito mais duradoura. A companhia
praticamente descartou a possibilidade de ligar as reservas ao campo de Urucu,
da Petrobras. “Como outras opções estão sendo analisadas, não há decisão ainda
sobre a necessidade de investimento em capacidade de gasoduto”, disse, em
resposta à pergunta sobre quem investiria em uma eventual expansão do Gasoduto
Urucu-Coari-Manaus.
A conexão à rede de transmissão de energia é vista com ceticismo pelo
mercado, diante do alto custo e dos riscos associados a uma obra deste porte em
meio à floresta. Com 1,7 mil quilômetros de extensão, o linhão Tucuruí-Manaus,
por exemplo, custou R$ 3,7 bilhões. Sua conclusão permitiu que o gás que chega
à região de Manaus seja transformado em eletricidade para distribuição em
outras regiões do país. A própria Petrobras tem planos de usar a infraestrutura
para desenvolver uma área mais próxima à capital do estado.
“A Rosneft tem vasta experiência em gerenciamento de perfurações e
pesquisas sísmicas em áreas remotas, que a companhia vai implementar no projeto
Solimões”, comentou, no dia da aquisição, a empresa. “Após a exploração, a
Rosneft vai usar sua expertise em produção terrestre de petróleo e gás”,
completou. A empresa, porém, tem sofrido com as sanções impostas à Rússia após
a anexação da Crimeia, que dificulta a captação de recursos para investimentos.
“As sanções têm efeitos reversos: prejudicam acionistas internacionais e
stakeholders internacionais, prejudicam fabricantes de equipamentos, prejudicam
bancos e fundos de investimentos que não estarão habilitados a investir em
indústrias na Rússia”, afirmou ao “The Independent” o presidente da companhia,
Igor Sechin, em rara entrevista concedida em fevereiro.
Os blocos do Solimões têm uma área de aproximadamente 41,5 mil
quilômetros quadrados. São 12 concessões com 11 descobertas há anunciadas.
Segundo avaliação feita pela consultoria DeGolyer&McNaughton, as reservas são
estimadas em 717 milhões de barris de óleo equivalente (dos quais, 95% são gás
natural).