sexta-feira, 29 de maio de 2015


Rosneft quer terminal de GNL no Solimões

Petroleira russa diz que tecnologia é a alternativa mais viável para escoamento de reservas de gás na Amazônia, que foram compradas semana passada da PetroRio

Nicola Pamplonanicola.pamplona@brasileconomico.com.br

A tecnologia de gás natural liquefeito ou uma eventual conexão de térmica a rede de distribuição em Manaus são as alternativas em estudo pela russa Rosneft para o desenvolvimento das reservas de gás recém adquiridas da PetroRio (ex-HRT), na Bacia do Solimões. A empresa pagou R$ 55 milhões para assumir a totalidade das concessões e espera ter uma melhor definição para o futuro dos projetos em dois ou três anos, quando concluir o prazo exploratório.A operação, que garantiu à russa a totalidade dos projetos, foi fechada na semana passada.

As concessões estão perto do município de Carauari, a 780 quilômetros de Manaus em linha reta pela floresta amazônica, o que praticamente inviabiliza a construção de um gasoduto até o principal mercado consumidor da região. A Petrobras opera a província gasífera de Urucu na vizinha Coari e entrega gás em Manaus por meio de um gasoduto Urucu-Coari-Manaus, de 660 quilômetros, mas são poucas as chances de conexão às reservas da Rosneft. A Petrobras tem descobertas perto das concessões da petroleira russa e as duas empresas estudam uma estratégia conjunta para o escoamento da produção.

A Rosneft informou ao Brasil Econômico que as duas principais alternativas, no momento, são a construção de uma planta de liquefação de gás natural (processo de resfriamento do combustível a 162° negativos) para transporte em navios até mercados consumidores ou a construção de uma térmica perto dos poços produtores (conhecida como gas to wire, o gás para o fio). “Ambas são tecnologias viáveis e os estudos compreendem a construção de um gasoduto e o escoamento fluvial”, diz a Rosneft.

O gasoduto em questão poderia ligar as reservas a um terminal fluvial de gás natural liquefeito (GNL), que, segundo fontes, pode ser construído às margens do rio Solimões — uma vez que o rio mais próximo, o Juruá, é extremamente sinuoso, o que tornaria a viagem muito mais duradoura. A companhia praticamente descartou a possibilidade de ligar as reservas ao campo de Urucu, da Petrobras. “Como outras opções estão sendo analisadas, não há decisão ainda sobre a necessidade de investimento em capacidade de gasoduto”, disse, em resposta à pergunta sobre quem investiria em uma eventual expansão do Gasoduto Urucu-Coari-Manaus.

A conexão à rede de transmissão de energia é vista com ceticismo pelo mercado, diante do alto custo e dos riscos associados a uma obra deste porte em meio à floresta. Com 1,7 mil quilômetros de extensão, o linhão Tucuruí-Manaus, por exemplo, custou R$ 3,7 bilhões. Sua conclusão permitiu que o gás que chega à região de Manaus seja transformado em eletricidade para distribuição em outras regiões do país. A própria Petrobras tem planos de usar a infraestrutura para desenvolver uma área mais próxima à capital do estado.

“A Rosneft tem vasta experiência em gerenciamento de perfurações e pesquisas sísmicas em áreas remotas, que a companhia vai implementar no projeto Solimões”, comentou, no dia da aquisição, a empresa. “Após a exploração, a Rosneft vai usar sua expertise em produção terrestre de petróleo e gás”, completou. A empresa, porém, tem sofrido com as sanções impostas à Rússia após a anexação da Crimeia, que dificulta a captação de recursos para investimentos.

“As sanções têm efeitos reversos: prejudicam acionistas internacionais e stakeholders internacionais, prejudicam fabricantes de equipamentos, prejudicam bancos e fundos de investimentos que não estarão habilitados a investir em indústrias na Rússia”, afirmou ao “The Independent” o presidente da companhia, Igor Sechin, em rara entrevista concedida em fevereiro.

Os blocos do Solimões têm uma área de aproximadamente 41,5 mil quilômetros quadrados. São 12 concessões com 11 descobertas há anunciadas. Segundo avaliação feita pela consultoria DeGolyer&McNaughton, as reservas são estimadas em 717 milhões de barris de óleo equivalente (dos quais, 95% são gás natural).