quinta-feira, 21 de maio de 2015

Triste rotina de violência
Sempre que acontecem crimes terríveis como o da Lagoa, as autoridades reagem. Deslocam policiamento ostensivo para lugares antes abandonados
Octávio Costa ocosta@brasileconomico.com.br
Daqui a um ano a cidade do Rio de Janeiro será sede da primeira Olimpíada realizada na América do Sul. A expectativa é enorme e todos torcem para que as autoridades consigam cumprir o cronograma das obras e se mostrem capazes de assegurar a qualidade e o brilho do evento histórico. Se há problemas de ordem administrativa, surge agora um sinal amarelo (quase vermelho) sobre o nível de segurança que se faz necessário para proteger os atletas e turistas estrangeiros que participarão do maior evento do esporte mundial. Terá o Rio condições de zelar pela integridade dos milhares de visitantes? Não se trata de uma Copa do Mundo, quando a responsabilidade é dividida com outras cidades. Desta vez, o encargo se concentra na Cidade Maravilhosa. E a considerar os fatos dos últimos dias, há motivos de sobra para se preocupar.
Algo está fora de controle. Na noite de terça-feira, um ciclista foi esfaqueado na beira da Lagoa Rodrigo de Freitas. Os bandidos levaram sua bicicleta e a vítima não resistiu aos ferimentos. O assassinato do cardiologista Jaime Gold teve forte repercussão e o policiamento da área foi imediatamente reforçado. No twitter oficial, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que a morte do médico na Lagoa “é inadmissível”. Sem dúvida. Mas não custa lembrar que têm sido frequentes os assaltos naquela área. Os jornais lembraram exemplos dos últimos meses. Todos com ataques a facadas. Em abril, o francês Victor Didier, de 19 anos, foi cercado entre os clubes Caiçaras e Flamengo e teve os dois pulmões feridos. Em outubro, o estudante Carlos Henrique Pereira ficou três dias internados com o pulmão perfurado.

Bairro da alta classe média, a Lagoa será palco das provas de remo da Olimpíada. Certamente, haverá rigorosa operação para impedir a ação dos criminosos, muitos deles adolescentes. E no resto da cidade? Incidentes com bandos armados também têm ocorrido no centro do Rio, em pontos turísticos e comerciais. No final de 2013, ao reagir ao roubo do celular, um jovem foi morto na Avenida Chile. No Carnaval, um turista alemão levou uma facada no peito e morreu em plena tarde na Rua Uruguaiana. Há dias, a TV Globo mostrou um assalto do mesmo tipo na Avenida Rio Branco, na hora do rush. No fim de semana, uma turista vietnamita foi apunhalada nas costas na Rua 1º de Março, ao lado do Palácio Tiradentes. Só sobreviveu porque seu companheiro enfrentou os delinquentes. Não havia polícia por perto.

Sempre que acontecem crimes terríveis como o da Lagoa, as autoridades reagem. Deslocam policiamento ostensivo para lugares antes abandonados. E prometem que dali para frente tudo vai ser diferente. Mas, com o passar dos dias, retoma-se a triste rotina de violência. Em certa medida, é o que acontece quando morrem pessoas inocentes em troca de tiros nas UPPs. As autoridades se dizem consternadas e garantem punição para os policiais envolvidos. Os casos, porém, se repetem. E os cariocas já aprenderam a conviver com o clima de insegurança. Mas a Olimpíada vem aí e exige medidas concretas do aparelho de segurança, muito além de desabafos ocasionais. Caso contrário, os atletas e turistas serão presa fácil dos malfeitores. Há que evitar o vexame internacional, secretário Beltrame.