quinta-feira, 14 de maio de 2015


Um ranking que envergonha

O ajuste fiscal é temporário. Permanente é a pouca importância que se dá à Educação no Brasil

Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

Em meados da década de 80, o principal assunto da economia mundial era a impressionante taxa de crescimento dos chamados tigres asiáticos, representados por Hong Kong, Coreia do Sul, Cingapura e Taiwan. Enquanto os países da América do Sul debatiam-se com inflação e dívida externa impagável, a Ásia comemorava estatísticas recordes com volume de exportações cada vez maior. Por trás do sucesso, havia um segredo de Polichinelo: os novos players do comércio exterior realizaram investimentos pesados na educação e na formação da mão de obra. No caso da Coreia do Sul, a prioridade absoluta à Educação foi adotada ainda na década de 70, por militares que governavam com mão de ferro. O projeto era investir bilhões de dólares no setor para tornar o país competitivo. Apesar do autoritarismo, a fórmula deu certo. E o exemplo coreano passou a ser citação obrigatória.

Naquela época, o Brasil ainda vivia sob o regime militar. Mas os generais se diziam sensibilizados pela receita dos tigres asiáticos. Iriam destinar bilhões à Educação, desde o ensino básico até o nível superior. Ficaram na promessa. Veio a redemocratização e os governos civis que se seguiram assumiram o mesmo compromisso. Houve certa evolução. Abriram-se oportunidades para as classes de renda mais baixa, reparou-se injustiça histórica nas universidades com a criação da cota racial e foi criado um fundo para o ensino. Mesmo assim, o Brasil, em momento algum, conseguiu se aproximar do avanço obtido no Sudeste Asiático. O que não chega a surpreender. Por aqui, jamais se conferiu à Educação a prioridade que merece. Viu-se muita retórica, mas pouca efetividade. Verba volant, diziam os romanos. As palavras voam.

O resultado é motivo de vergonha. No ranking mundial de Educação divulgado ontem pela OCDE, o Brasil ocupa o 60º lugar entre 76 países pesquisados. Na parte inferior da tabela, equipara-se à Argentina (62º) e à Colômbia (67º) e está distante apenas de países africanos. Com base em testes de matemática e ciências, o primeiro lugar pertence a Cingapura, seguida de Hong Kong e Coreia do Sul. Ou seja, os tigres asiáticos continuam a mostrar sua força. Não é à toa que empresas coreanas como a Samsung, a LG e a Hyundai não param de conquistar mercados pelo mundo afora. Em seu relatório, a OCDE lembra que os índices de Educação de um país podem sinalizar os ganhos econômicos a longo prazo. E destaca que Cingapura, que lidera o ranking atual, registrava altos níveis de analfabetismo na década de 60. Logo, o progresso educacional pode ser alcançado em pouco tempo, desde que a prioridade seja para valer. Na mão inversa, “políticas e práticas educativas deficientes deixam muitos países em um permanente estado de recessão econômica”, adverte o relatório.

O ranking da OCDE foi divulgado num momento crítico para as universidades federais. Em razão do ajuste fiscal, as verbas para o ensino superior estão sendo liberadas a conta-gotas. Com isso, o quadro é desolador. Na UFRJ, por atraso no pagamento, foram suspensos os serviços de segurança e limpeza. Na UFF, o fornecimento de material de limpeza (inclusive papel higiênico) foi reduzido a um quarto. Até no Colégio Pedro II, instituição federal do ensino médio, o bandejão está suspenso. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, garante que o aperto é temporário. Pode ser. Permanente é a pouca importância que se dá à Educação no Brasil.