Um ranking que envergonha
O ajuste fiscal é
temporário. Permanente é a pouca importância que se dá à Educação no Brasil
Octávio
Costaocosta@brasileconomico.com.br
Em meados da década de 80, o principal assunto da economia mundial era a
impressionante taxa de crescimento dos chamados tigres asiáticos, representados
por Hong Kong, Coreia do Sul, Cingapura e Taiwan. Enquanto os países da América
do Sul debatiam-se com inflação e dívida externa impagável, a Ásia comemorava
estatísticas recordes com volume de exportações cada vez maior. Por trás do
sucesso, havia um segredo de Polichinelo: os novos players do comércio exterior
realizaram investimentos pesados na educação e na formação da mão de obra. No
caso da Coreia do Sul, a prioridade absoluta à Educação foi adotada ainda na
década de 70, por militares que governavam com mão de ferro. O projeto era
investir bilhões de dólares no setor para tornar o país competitivo. Apesar do
autoritarismo, a fórmula deu certo. E o exemplo coreano passou a ser citação
obrigatória.
Naquela época, o Brasil ainda vivia sob o regime militar. Mas os
generais se diziam sensibilizados pela receita dos tigres asiáticos. Iriam
destinar bilhões à Educação, desde o ensino básico até o nível superior.
Ficaram na promessa. Veio a redemocratização e os governos civis que se
seguiram assumiram o mesmo compromisso. Houve certa evolução. Abriram-se
oportunidades para as classes de renda mais baixa, reparou-se injustiça
histórica nas universidades com a criação da cota racial e foi criado um fundo
para o ensino. Mesmo assim, o Brasil, em momento algum, conseguiu se aproximar
do avanço obtido no Sudeste Asiático. O que não chega a surpreender. Por aqui,
jamais se conferiu à Educação a prioridade que merece. Viu-se muita retórica,
mas pouca efetividade. Verba volant, diziam os romanos. As palavras voam.
O resultado é motivo de vergonha. No ranking mundial de Educação
divulgado ontem pela OCDE, o Brasil ocupa o 60º lugar entre 76 países pesquisados.
Na parte inferior da tabela, equipara-se à Argentina (62º) e à Colômbia (67º) e
está distante apenas de países africanos. Com base em testes de matemática e
ciências, o primeiro lugar pertence a Cingapura, seguida de Hong Kong e Coreia
do Sul. Ou seja, os tigres asiáticos continuam a mostrar sua força. Não é à toa
que empresas coreanas como a Samsung, a LG e a Hyundai não param de conquistar
mercados pelo mundo afora. Em seu relatório, a OCDE lembra que os índices de
Educação de um país podem sinalizar os ganhos econômicos a longo prazo. E
destaca que Cingapura, que lidera o ranking atual, registrava altos níveis de
analfabetismo na década de 60. Logo, o progresso educacional pode ser alcançado
em pouco tempo, desde que a prioridade seja para valer. Na mão inversa,
“políticas e práticas educativas deficientes deixam muitos países em um
permanente estado de recessão econômica”, adverte o relatório.
O ranking da OCDE foi divulgado num momento crítico para as universidades federais. Em razão do ajuste fiscal, as verbas para o ensino superior estão sendo liberadas a conta-gotas. Com isso, o quadro é desolador. Na UFRJ, por atraso no pagamento, foram suspensos os serviços de segurança e limpeza. Na UFF, o fornecimento de material de limpeza (inclusive papel higiênico) foi reduzido a um quarto. Até no Colégio Pedro II, instituição federal do ensino médio, o bandejão está suspenso. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, garante que o aperto é temporário. Pode ser. Permanente é a pouca importância que se dá à Educação no Brasil.
O ranking da OCDE foi divulgado num momento crítico para as universidades federais. Em razão do ajuste fiscal, as verbas para o ensino superior estão sendo liberadas a conta-gotas. Com isso, o quadro é desolador. Na UFRJ, por atraso no pagamento, foram suspensos os serviços de segurança e limpeza. Na UFF, o fornecimento de material de limpeza (inclusive papel higiênico) foi reduzido a um quarto. Até no Colégio Pedro II, instituição federal do ensino médio, o bandejão está suspenso. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, garante que o aperto é temporário. Pode ser. Permanente é a pouca importância que se dá à Educação no Brasil.