sexta-feira, 8 de maio de 2015


Dilma e os heróis da pátria

Quem enfrentou os algozes da ditadura, aos 22 anos de idade, não pode se deixar intimidar por faixas e apupos de grupos opositores

Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

Não se sabe de quem está partindo o conselho. Mas é muito estranha a decisão de afastar a presidente Dilma Rousseff de eventos oficiais e de gravações para a TV. Quando informou que Dilma não faria sua tradicional mensagem à Nação no dia 1º de Maio, o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, explicou que o Palácio do Planalto preferiu inovar e valorizar as redes sociais. Em lugar de aparecer no horário nobre na véspera do feriado, Dilma resumiu-se a divulgar textos no twitter e vídeos no facebook. Esta semana, foi a vez de ela ficar de fora do propaganda gratuita do PT. Houve apenas duas imagens de arquivo e coube ao ex-presidente Lula servir de âncora do programa, com críticas ao projeto de lei que amplia a terceirização da mão de obra para as atividades-fim. Na versão do ministro Edinho, a quem coube justificar a nova ausência, não existe motivo para confundir Dilma com o PT.

Há quem diga, porém, que os assessores da presidente estão com medo de expor a chefe a protestos convocados por correntes antipetistas e descontentes com o governo. Eles temem a realização de novo panelaço, como o que aconteceu após o pronunciamento de Dilma Rousseff no Dia Internacional da Mulher e se repetiu em menor intensidade esta semana durante o horário reservado ao PT. Embora pareça excesso de zelo, é uma providência razoável. Mas daí a evitar a presença da chefe de Estado em solenidades nas quais sua participação é obrigatória vai uma grande distância. É natural que déspotas se escondam dos cidadãos ou só se exponham em eventos com platéia selecionada ou claques cuidadosamente arregimentadas. Nas democracias, porém, não faz o menor sentido abrir um fosso entre os dirigentes e o eleitorado. Vale lembrar que – apesar do trauma histórico com o assassinato de John Kennedy – Barack Obama, de mão dadas com a mulher Michelle, andou pelo meio da rua em Washington, após a cerimônia de posse em janeiro de 2009.

Dilma Rousseff foi reeleita em eleições livres e legítimas em outubro. É presidente do Brasil e representa todos os brasileiros e brasileiras. Ela ainda tem pela frente três anos e meio de mandato. E evidentemente não poderá abrir mão das obrigações que o cargo máximo lhe impõe. É imperdoável a decisão, tomada em cima da hora, de não comparecer neste 8 de maio à solenidade do Dia da Vitória, em frente ao Monumento dos Pracinhas, no Aterro do Flamengo, no Rio. Mesmo que os serviços de inteligência e o governo estadual tenham detectado a possibilidade de alguma manifestação, a cerimônia em homenagem aos 70 anos do fim da II Guerra Mundial é organizada pelas Forças Armadas, que certamente têm plenas condições de garantir a integridade da presidente da República. Cercada de oficiais e com o público à distância, o que Dilma poderia temer? No máximo, uma vaia.

Em sua biografia, Dilma Rousseff deu vários exemplos de coragem. Tornou-se célebre sua foto ao depor na Auditoria do Exército, em novembro de 1970, de cabeça erguida diante de oficiais que escondiam o rosto. Quem enfrentou os algozes da ditadura, aos 22 anos de idade, não pode se deixar intimidar por faixas e apupos de grupos opositores. Centenas de brasileiros morreram nos campos da Itália ao enfrentarem o nazismo. A presidente tinha o dever de homenagear os heróis da Pátria. Foi um erro grave cancelar a agenda. Está na hora de Dilma dar um basta à cautela de seus assessores.