Brasil e Rússia reforçam
Opep em briga com EUA
Segundo Agência
Internacional de Energia, crescimento da produção nos dois países ajuda a
manter petróleo em baixa. Petrobras prevê aumento de 50% das exportações
Nicola
Pamplonanicola.pamplona@brasileconomico.com.br
Com expectativa de aumento de 50% nas exportações este ano, a Petrobras
aparece em relatório distribuído ontem pela Agência Internacional de Energia
(AIE) como um dos fatores que manterão a pressão baixista nas cotações
internacionais do petróleo. A estatal comemorou ontem mais um recorde de
produção no pré-sal, com a marca de 800 mil barris por dia, e espera fechar
2015 com exportações de 350 mil barris por dia. Para a AIE, a produção
crescente de Brasil e Rússia joga ainda mais lenha na disputa entre os países
árabes e os Estados Unidos pelo mercado global.
O relatório de mercado da agência referente ao mês de abril vem com
aumento nas projeções de crescimento da produção este ano, apesar da
desaceleração na exploração de reservas não convencionais nos Estados Unidos.
Segundo a AIE, a produção em países não-membros da Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (Opep) vai crescer em 830 mil barris por dia este ano
— 200 mil barris a mais do que a projeção anterior, feita no mês passado.
Atualmente, os técnicos da agência veem um excedente superior a 2 milhões de
barris por dia no mercado global.
“Apesar de sinais temporariamente otimistas nos Estados Unidos e
desconsiderando qualquer interrupção inesperada, os fundamentos de curto prazo
do mercado continuam relativamente frouxos”, diz o relatório. Em abril, a
produção global cresceu 3,2 milhões de barris por dia, com relação ao mesmo
período do ano anterior, diz a AIE, apesar dos baixos preços da commodity. O
cenário reforça a tese de um esforço dos países para conter o crescimento da
produção americana: enquanto a Arábia Saudita vem produzindo volumes recordes,
os Estados Unidos vivem um movimento de redução maciça do número de sondas em
operação.
Nesse cenário, Brasil, Rússia e países asiáticos, como China e Malásia,
têm contribuído com a inundação de óleo novo no mercado. Segundo analistas, os
dois primeiros precisam vender mais petróleo, mesmo a preços baixos, para
garantir a entrada de recursos. De acordo com a AIE, a produção brasileira cresceu
17% no primeiro trimestre de 2015, em comparação com o mesmo período em 2014,
com o início das operações de novos projetos no pré-sal. Já as companhias
russas “parecem estar lidando excepcionalmente bem com os baixos preços e com
as sanções internacionais”, diz o texto.
“Enquanto o mercado continua a rebalancear, bolsões de crescimento na
oferta estão emergindo de locais inesperados”, analisam os técnicos da AIE,
concluindo que o movimento pode retardar a recuperação dos preços
internacionais: “Mas é prematuro dizer que a Opep venceu a batalha pelo
mercado. Ao contrário, a batalha está apenas começando”.
Ontem, a Petrobras informou que a entrada em operação do sistema de
produção antecipada do campo de Búzios, na Bacia de Santos, levou a produção do
pré-sal a ultrapassar a marca dos 800 mil barris pela primeira vez no dia 11 de
abril. “A produção de 800 mil barris por dia foi alcançada apenas oito anos
após a primeira descoberta de petróleo na camada pré-sal, ocorrida em 2006”,
comemorou a estatal, lembrando que levou 24 anos para atingir os primeiros 800
mil barris por dia no pós-sal da Bacia de Campos, ainda a maior província
produtora do país. No pré-sal, a marca foi alcançada com apenas 39 poços
produtores. Em Campos, foram necessários 423.
O crescimento da produção e os gargalos para o incremento da capacidade
nacional de refino levarão a um aumento das exportações, informou o gerente de
óleo cru da Petrobras, Fernando Colares Nogueira, em palestra ontem no Rio. O
volume projetado, de 350 mil barris por dia, representa um crescimento de 51,2%
com relação aos 231,5 mil barris por dia exportados em 2014. O executivo
destacou que o principal destino do petróleo exportado será a Ásia,
principalmente a China e a Índia, com o mercado americano se tornando menos
relevante, devido à alta produtividade das jazidas não convencionais no país.
Com o crescimento da relevância dos sócios da Petrobras no volume
produzido, a companhia tem perdido participação relativa nas exportações de
petróleo. De acordo com Nogueira, a Petrobras é atualmente responsável por 50%
do petróleo exportado do Brasil, ante 70% em 2011. Com Reuters