Lula está tinindo para 2018
Se Dilma Rousseff
conseguir sair da arapuca em que se meteu, o desafio de Lula será mais fácil.
Mas ele disputará a corrida ao Planalto de qualquer jeito
Octávio
Costaocosta@brasileconomico.com.br
Quem assistiu ao vídeo divulgado na internet pelo Instituto Lula ficou
impressionado, tanto assim que uma das imagens ganhou o alto da primeira página
do DIA no sábado. Na gravação de dois minutos aparece o ex-presidente
praticando uma série de exercícios, desde caminhada na esteira até levantamento
de peso, com a ajuda de personal trainers. Além de se mostrar em excelente
forma para seus 69 anos, Lula dá conselhos ao pessoal da terceira idade. “O que
você pensa que é sacrifício é benefício. Tenha coragem. Levante às 5h, 6h, 7h,
8h, quando puder. ” Suado e sorridente, ele brinca com o próprio esforço:
“Parece pouco, mas, para um velhinho como eu, está de bom tamanho”. Seu recado
vai muito além dos cuidados com a saúde. O que fica claro (e, sem dúvida, deu origem
ao vídeo) é que Luiz Inácio Lula da Silva está pronto para o que der e vier.
Faltam três anos para a pré-campanha à sucessão de Dilma Rousseff, mas
até as pedras de São Bernardo do Campos sabem que o ex-metalúrgico está polindo
os músculos para tentar a volta ao Palácio do Planalto nas eleições de 2018.
Seus homens de confiança já entraram em campo, numa espécie de missão
precursora. Paulo Okamoto, Franklin Martins, Luis Dulci e Gilberto Carvalho
cuidam da agenda do chefe e traçam cuidadosamente a estratégia da campanha. Há
quem diga, como a senadora Marta Suplicy, que Lula deveria ter buscado o
terceiro mandato já nas eleições de 2014, mas foi impedido por Dilma, que não
admitiu abrir mão da prerrogativa constitucional. Em outra linha de intriga,
comenta-se que o ex-presidente estaria apostando no fiasco para se descolar do
atual governo e engrossar o coro dos críticos. Ganharia tempo suficiente para
enxugar os respingos do fracasso de sua protegida.
Nestes dias de incerteza, pululam as teorias conspirativas. Mas aqueles
que acompanham de perto as relações entre Lula e Dilma sabem que, mesmo que os
ânimos esquentem de vez em quando, os dois são amigos e nada os afastará. Pela
maior experiência política (e também pela notória intuição), é natural que o ex-presidente
se intrometa na gestão, principalmente em momentos de crise. Ele dá sugestões,
enfrenta resistência inicial, mas em geral acaba sendo atendido. Esse foi o
caso, por exemplo, das mudanças na articulação política. Dilma fez o possível
para manter nas mãos do PT a coordenação das relações entre o Executivo e o
Legislativo. Mais realista, Lula defendia a divisão da tarefa com o PMDB, e, se
necessário, a inclusão do vice Michel Temer nas discussões. Custou, mas sua
fórmula prevaleceu.
Que ninguém duvide: apesar de todos os problemas, o criador continua a
apostar no êxito de sua criatura. Se Dilma conseguir sair da arapuca em que se
meteu e recuperar a economia a partir do segundo semestre de 2016, o desafio de
Lula em 2018 será mais fácil. Mas o ex-presidente disputará a corrida ao
Planalto de qualquer jeito. O filho de Dona Lindu costuma passar incólume pelos
escândalos que desgastam o PT. Falam mais alto sua trajetória de vida, seu
forte carisma e os avanços sociais obtidos em seus dois mandatos. Ele é
protegido pelo que os políticos chamam de efeito teflon. Alguém, em sã
consciência, acredita que Lula pode ser derrotado pelo tucano Aécio Neves ou
pelo prefeito Eduardo Paes, a nova aposta do PMDB? O velhinho vem aí e está em
plena forma.