A HISTÓRIA SE REPETE
Dr. Amaury Dabul*
Início da década de 50.
Gabinete de Josef Stalin (1878-1953),
pretenso ditador de toda a Terra. Reunião com dois assessores de alto nível dos
quadros da KGB colocados à sua disposição para o planejamento da universalização
do socialismo soviético, projeto prioritário na então já aquecida Guerra Fria. Nesse
cenário é relatado um grande obstáculo que poderá inviabilizar a implementação
da Ideologia Comunista como queriam. O então megalomaníaco, que pouco tempo atrás
tomara para si o ideal de Adolf Hitler, ouviu atento o relatório de seus
assessores sobre o andamento do importante trabalho de planejamento que
executavam com afinco.
– Camarada Stalin!
Infelizmente temos o dever de participar ao nosso grande chefe a existência de
uma poderosa instituição, de âmbito mundial, fundamentada em milenar tradição.
Além disso, é dotada de aprimorada Doutrina que proporciona uma unidade de
procedimentos em todos os seus membros, de culturas as mais diversas e vivendo
em todas as partes da Terra, inclusive em áreas sob nossa influência política. Essa
Doutrina, incompatível com nossa Ideologia, é disseminada e seguida
espontaneamente pelas elites culturais e que detêm o poder nas regiões que
temos que conquistar. Trata-se da Igreja Católica Apostólica Romana, controlada
pelo Vaticano que se localiza em Roma. Estamos tentando ampliar nossos conhecimentos
a respeito, mas ela se apresenta como uma instituição muito fechada, com disciplina
voluntária e rígida proporcionada por essa sua Doutrina. Resumindo, suas
tradições e sua doutrina e consequente disciplina são os grandes obstáculos que
temos que superar.
– Bom trabalho, camaradas! É minha decisão: acabar com essa instituição
com prioridade e a qualquer custo. Solapem suas tradições, desacreditem essa
tal Doutrina e minem a citada disciplina de seus membros, concluiu Stalin.
Aí, iniciou-se a história da Teologia da Libertação que perdeu sua
força com o fim do comunismo soviético, que foi sua origem. A história dessa
nefasta Teologia possivelmente será toda narrada quando um bom e honesto
historiador resolver aproveitar a perestroika
(reestruturação) de Mikhail Gorbachev e, com a consequente glasnost (transparência), extrair a verdade dos arquivos de Moscou.
Isto não é o escopo de nosso presente ensaio. Aos interessados, recomendamos a
leitura da Instrução sobre a Teologia da Libertação que, após aprovada pelo
Sumo Pontífice João Paulo II, em 6 de agosto de 1984 foi divulgada pela Sagrada
Congregação para a Doutrina da Fé, cujo Prefeito era o Cardeal Joseph
Ratzinger, atual Papa Emérito Bento XVI.
Pouco antes do cenário inicialmente
apresentado, no final da década de 40, um grupo de brasileiros de visão,
envergonhados do nosso baixíssimo nível de desenvolvimento em relação aos
nossos aliados da 2ª Guerra, concluíram que tínhamos recursos, mas o que não
possuíamos era cultura condizente com nossa possibilidade de ser uma potente
nação. Principalmente no que dizia respeito à cultura política. Nosso
desenvolvimento era lento e retardado pela ineficácia de nossa gestão pública,
em todos os níveis e em todos os setores. Foram felizes em seus patrióticos
intentos e promoveram a implantação de nossa ESG – Escola Superior de Guerra.
Essa instituição, já sexagenária, conseguiu criar suas tradições deixando
orgulhosos os verdadeiros brasileiros verde-amarelos sem qualquer tarja
vermelha. Mais do que isto, formulou e aprimorou uma Doutrina de Ação Política
que faltava para o Brasil acelerar seu desenvolvimento com a segurança
necessária. Isto, a despeito das forças antagônicas externas e as internas
proporcionadas pelos maus brasileiros que se acalentavam com ideologias
alienígenas ou apresentavam deformações axiológicas. Graças a essa Doutrina de
Ação Política, devidamente considerada na década de 70, havendo até a
institucionalização de um Sistema de Planejamento Federal (Dec 71.353/1972), em
uma década o Brasil passou de 45º para 8º PIB no concerto das nações. Muitos,
por falta de conhecimento ou por má fé, dizem que o que houve foi um “milagre
brasileiro” na década de 70. O que houve foi o grande desempenho governamental
proporcionado pela prática da Doutrina de Ação Política da ESG, com o
funcionamento eficaz do Sistema de Planejamento Federal, culminando com os I e
II PND’s. Em decorrência, qualquer análise científica mostra que o que de bom e
grandioso ora existente no Brasil foi construído ou teve suas sementes
plantadas nessa profícua época que a história haverá por bem registrar. A
gênese desses fatos positivos está no bom desempenho apresentado historicamente
pela ESG. Mas, suas tradições e sua doutrina incomodam os maus brasileiros,
principalmente os verde-amarelos com tarja vermelha. No momento presente,
vivenciamos um anti-patriótico ambiente na Escola Superior de Guerra, onde
assistimos nova edição da conhecida “Revolução Cultural”, de triste memória
para os chineses. Suas tradições vão sendo sorrateiramente corroídas, com
mudanças em sua estrutura organizacional e suas finalidades. Sua Doutrina foi
vilipendiada com inúmeros princípios aviltados e que deveriam ser pétreos. O
ambiente é, continuamente, de ordem (de Brasília) seguida de contra-ordem. Ora
é proibido falar no conceito de Segurança; proibição cancelada por falta de
lógica científica. Temos notícia que, contrariando os rudimentos da epistemologia,
não há mais a Doutrina da ESG, também por ordem (de Brasília). Sabemos que
Doutrina é um sistema de conhecimentos evolutivo, bem diferente de Ideologia
que, apesar de também ser um sistema de conhecimentos, é baseada em idéias
dogmáticas pré-concebidas. Será que a intenção é completar com uma Ideologia a
lacuna deixada pela Doutrina? Durante um razoável período seu comando foi
hierarquicamente rebaixado, seguindo-se de contra-ordem. Houve momento que, por
ordem (de Brasília), o seu tradicional Corpo Permanente passou a ser Corpo
Docente; houve, também, contra-ordem. Corpo Docente é o embasamento de uma
Universidade, não há dúvida alguma. Mas, a ESG não foi idealizada para formar
bacharéis, mestres nem doutores. Destinava-se a ser, o que faltava no Brasil,
um instituto de altos estudos que congregasse brasileiros de alto nível
intelectual que já tivessem dado certo em suas atividades e em todo nosso
imenso território para, aprendendo a trabalhar em conjunto, com visão
holística, melhorassem o desempenho da gestão pública. Gestão esta tão carente
de planejamento e orientada pelo empirismo e improvisação dos administradores públicos
mal preparados. Isto era o que diferenciava nosso pobre Brasil de seus ricos aliados
da 2ª Guerra.
O sentimento que temos é que as Tradições e
a Doutrina da ESG estão incomodando e, tudo indica, A HISTÓRIA SE REPETE.
Mas,
devemos ter a convicção de que, apesar de às vezes demorar, o certo sempre vence
o errado, como a verdade sempre supera a mentira. É só dar tempo ao tempo;
mesmo aparentemente destruída, como a Fênix da mitologia grega que ressurge das
cinzas com toda pujança, a ESG voltará com suas honrosas Tradições e valiosa Doutrina
que nunca se apagarão da mente dos verde-amarelos
sem qualquer tarja vermelha.
* Amaury Dabul é Capitão-de-Mar-e-Guerra
Reformado,
Doutor em Ciências Navais, Administrador,
Profissional de Relações Públicas,
Ex-Membro do Corpo Permanente da Escola Superior de
Guerra – ESG,
Membro-Fundador do Grupo de Estudos para
o Desenvolvimento da Administração – GEDA,
Membro-Fundador do Centro Brasileiro de
Estudos Estratégicos – CEBRES,
Membro da Associação dos Diplomados da Escola Superior
de Guerra – ADESG.
Acadêmico Titular da Cátedra nº 4 da
Academia Brasileira de Ciência da Administração – ABCA,
Coordenador-Geral do Sistema de
Planejamento da Ação Governamental de Município – SISPAGOM® e
Presidente da ONG/OSCIP Alavancando o
Progresso – ALPROGRESSO®.