domingo, 26 de abril de 2015


A HISTÓRIA SE REPETE

Dr. Amaury Dabul*

Início da década de 50. Gabinete de Josef Stalin (1878-1953), pretenso ditador de toda a Terra. Reunião com dois assessores de alto nível dos quadros da KGB colocados à sua disposição para o planejamento da universalização do socialismo soviético, projeto prioritário na então já aquecida Guerra Fria. Nesse cenário é relatado um grande obstáculo que poderá inviabilizar a implementação da Ideologia Comunista como queriam. O então megalomaníaco, que pouco tempo atrás tomara para si o ideal de Adolf Hitler, ouviu atento o relatório de seus assessores sobre o andamento do importante trabalho de planejamento que executavam com afinco.

– Camarada Stalin! Infelizmente temos o dever de participar ao nosso grande chefe a existência de uma poderosa instituição, de âmbito mundial, fundamentada em milenar tradição. Além disso, é dotada de aprimorada Doutrina que proporciona uma unidade de procedimentos em todos os seus membros, de culturas as mais diversas e vivendo em todas as partes da Terra, inclusive em áreas sob nossa influência política. Essa Doutrina, incompatível com nossa Ideologia, é disseminada e seguida espontaneamente pelas elites culturais e que detêm o poder nas regiões que temos que conquistar. Trata-se da Igreja Católica Apostólica Romana, controlada pelo Vaticano que se localiza em Roma. Estamos tentando ampliar nossos conhecimentos a respeito, mas ela se apresenta como uma instituição muito fechada, com disciplina voluntária e rígida proporcionada por essa sua Doutrina. Resumindo, suas tradições e sua doutrina e consequente disciplina são os grandes obstáculos que temos que superar.

– Bom trabalho, camaradas! É minha decisão: acabar com essa instituição com prioridade e a qualquer custo. Solapem suas tradições, desacreditem essa tal Doutrina e minem a citada disciplina de seus membros, concluiu Stalin.

Aí, iniciou-se a história da Teologia da Libertação que perdeu sua força com o fim do comunismo soviético, que foi sua origem. A história dessa nefasta Teologia possivelmente será toda narrada quando um bom e honesto historiador resolver aproveitar a perestroika (reestruturação) de Mikhail Gorbachev e, com a consequente glasnost (transparência), extrair a verdade dos arquivos de Moscou. Isto não é o escopo de nosso presente ensaio. Aos interessados, recomendamos a leitura da Instrução sobre a Teologia da Libertação que, após aprovada pelo Sumo Pontífice João Paulo II, em 6 de agosto de 1984 foi divulgada pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, cujo Prefeito era o Cardeal Joseph Ratzinger, atual Papa Emérito Bento XVI.

Pouco antes do cenário inicialmente apresentado, no final da década de 40, um grupo de brasileiros de visão, envergonhados do nosso baixíssimo nível de desenvolvimento em relação aos nossos aliados da 2ª Guerra, concluíram que tínhamos recursos, mas o que não possuíamos era cultura condizente com nossa possibilidade de ser uma potente nação. Principalmente no que dizia respeito à cultura política. Nosso desenvolvimento era lento e retardado pela ineficácia de nossa gestão pública, em todos os níveis e em todos os setores. Foram felizes em seus patrióticos intentos e promoveram a implantação de nossa ESG – Escola Superior de Guerra. Essa instituição, já sexagenária, conseguiu criar suas tradições deixando orgulhosos os verdadeiros brasileiros verde-amarelos sem qualquer tarja vermelha. Mais do que isto, formulou e aprimorou uma Doutrina de Ação Política que faltava para o Brasil acelerar seu desenvolvimento com a segurança necessária. Isto, a despeito das forças antagônicas externas e as internas proporcionadas pelos maus brasileiros que se acalentavam com ideologias alienígenas ou apresentavam deformações axiológicas. Graças a essa Doutrina de Ação Política, devidamente considerada na década de 70, havendo até a institucionalização de um Sistema de Planejamento Federal (Dec 71.353/1972), em uma década o Brasil passou de 45º para 8º PIB no concerto das nações. Muitos, por falta de conhecimento ou por má fé, dizem que o que houve foi um “milagre brasileiro” na década de 70. O que houve foi o grande desempenho governamental proporcionado pela prática da Doutrina de Ação Política da ESG, com o funcionamento eficaz do Sistema de Planejamento Federal, culminando com os I e II PND’s. Em decorrência, qualquer análise científica mostra que o que de bom e grandioso ora existente no Brasil foi construído ou teve suas sementes plantadas nessa profícua época que a história haverá por bem registrar. A gênese desses fatos positivos está no bom desempenho apresentado historicamente pela ESG. Mas, suas tradições e sua doutrina incomodam os maus brasileiros, principalmente os verde-amarelos com tarja vermelha. No momento presente, vivenciamos um anti-patriótico ambiente na Escola Superior de Guerra, onde assistimos nova edição da conhecida “Revolução Cultural”, de triste memória para os chineses. Suas tradições vão sendo sorrateiramente corroídas, com mudanças em sua estrutura organizacional e suas finalidades. Sua Doutrina foi vilipendiada com inúmeros princípios aviltados e que deveriam ser pétreos. O ambiente é, continuamente, de ordem (de Brasília) seguida de contra-ordem. Ora é proibido falar no conceito de Segurança; proibição cancelada por falta de lógica científica. Temos notícia que, contrariando os rudimentos da epistemologia, não há mais a Doutrina da ESG, também por ordem (de Brasília). Sabemos que Doutrina é um sistema de conhecimentos evolutivo, bem diferente de Ideologia que, apesar de também ser um sistema de conhecimentos, é baseada em idéias dogmáticas pré-concebidas. Será que a intenção é completar com uma Ideologia a lacuna deixada pela Doutrina? Durante um razoável período seu comando foi hierarquicamente rebaixado, seguindo-se de contra-ordem. Houve momento que, por ordem (de Brasília), o seu tradicional Corpo Permanente passou a ser Corpo Docente; houve, também, contra-ordem. Corpo Docente é o embasamento de uma Universidade, não há dúvida alguma. Mas, a ESG não foi idealizada para formar bacharéis, mestres nem doutores. Destinava-se a ser, o que faltava no Brasil, um instituto de altos estudos que congregasse brasileiros de alto nível intelectual que já tivessem dado certo em suas atividades e em todo nosso imenso território para, aprendendo a trabalhar em conjunto, com visão holística, melhorassem o desempenho da gestão pública. Gestão esta tão carente de planejamento e orientada pelo empirismo e improvisação dos administradores públicos mal preparados. Isto era o que diferenciava nosso pobre Brasil de seus ricos aliados da 2ª Guerra.

O sentimento que temos é que as Tradições e a Doutrina da ESG estão incomodando e, tudo indica, A HISTÓRIA SE REPETE.

Mas, devemos ter a convicção de que, apesar de às vezes demorar, o certo sempre vence o errado, como a verdade sempre supera a mentira. É só dar tempo ao tempo; mesmo aparentemente destruída, como a Fênix da mitologia grega que ressurge das cinzas com toda pujança, a ESG voltará com suas honrosas Tradições e valiosa Doutrina que nunca se apagarão da mente dos verde-amarelos sem qualquer tarja vermelha.

 

* Amaury Dabul é Capitão-de-Mar-e-Guerra Reformado,

 Doutor em Ciências Navais, Administrador, Profissional de Relações Públicas,

Ex-Membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra – ESG,

Membro-Fundador do Grupo de Estudos para o Desenvolvimento da Administração – GEDA,

Membro-Fundador do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos – CEBRES,

Membro da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra – ADESG.

Acadêmico Titular da Cátedra nº 4 da Academia Brasileira de Ciência da Administração – ABCA,

Coordenador-Geral do Sistema de Planejamento da Ação Governamental de Município – SISPAGOM® e

Presidente da ONG/OSCIP Alavancando o Progresso – ALPROGRESSO®.