As profecias de Tombini
Em palestra, ontem,
durante evento promovido pelo Itaú BBA, o presidente do Banco Central,
Alexandre Tombini, mostrou alta dose de otimismo sobre o futuro da economia
brasileira
Octávio
Costaocosta@brasileconomico.com.br
Em suas previsões arrojadas, fez lembrar o ex-ministro da Fazenda Guido
Mantega em seus momentos de fé inabalável no controle da inflação e no
crescimento do PIB. Nada abalava Mantega, que, como se sabe, pagou caro pela imprevidência
e se tornou persona non grata neste início deste segundo mandato de Dilma
Rousseff. Tombini, porém, não só se manteve no governo, como tem exibido
perfeita harmonia com os demais membros da equipe econômica, Nelson Barbosa, no
Planejamento, e Joaquim Levy, na Fazenda. Mas, ao justificar os sacrifícios
impostos pelo ajuste fiscal e pelo corte no Orçamento, faz o possível para
injetar confiança nos empresários e consumidores. Em plena travessia do
deserto, Tombini acena com dias de leite e mel.
O presidente do BC voltou a carregar nas cores de seu cenário futurista.
Reafirmou que a inflação deve chegar ao centro da meta de inflação, de 4,5%,
até o fim do ano que vem. “Vemos a conversão do centro da meta para dezembro de
2016 e, principalmente, para os anos subsequentes. Para isso, além da
eliminação de incertezas que pairavam sobre os preços administrados, o BC
continuará a fazer uma política monetária vigilante para que ocorram as
ancoragens das expectativas”, explicou.
·
Segundo ele, 2015 será um ano de transição “para que tenhamos bases mais
sólidas para o crescimento sustentável". Tombini também aponta melhora no
front externo e se mostra tranquilo em relação à elevação de juros pelo Federal
Reserve americano. “Quando esta elevação ocorrer, ela deve ser de forma
gradual”, disse, ressaltando que o efeito da alta do dólar será amenizado pelo
estímulo monetário do Banco Central Europeu.
Por enquanto, os fatos não animam. Com as expectativas negativas, as
vendas no comércio recuaram 0,1% em fevereiro sobre janeiro. Na comparação com
fevereiro de 2014, a queda nas vendas foi de 3,1%, a maior desde agosto de
2003. Segundo o IBGE, como reflexo do reajuste dos preços da gasolina e do
diesel, o volume de vendas de combustíveis caiu 5,3% em um mês e 10,4% em doze
meses. Também são sombrias as projeções que o FMI faz para o Brasil. O
relatório “Panorama da Economia Mundial”, divulgado ontem em Washington,
adverte que a recessão brasileira ( -1%) vai contaminar o resultado de toda a
América do Sul.
Eis o diagnóstico do FMI: “O sentimento do setor privado continua
resistentemente fraco, por causa dos desafios de competitividade que não foram
enfrentados, o risco de energia e água no médio prazo e os desdobramentos da
investigação da Petrobras. A necessidade de um aperto fiscal maior do que o
esperado também tem papel na piora das projeções”.
O presente, portanto, recomenda cautela. Mas o futuro, nos garante
Alexandre Tombini, será promissor. Por que não acreditar nas profecias do
presidente do BC? Afinal de contas, Nostradamus previu que o rei da França,
Henrique II (1519-1559), teria morte dolorosa com um ferimento no olho. O
marido de Catarina de Médicis foi atingido na viseira num duelo e morreu 10
dias depois. Nostradamus acertou em cheio. Quem sabe a economia brasileira
sairá do sufoco em dezembro de 2016?