A situação industrial
A presente situação
industrial reflete a crise de confiança que se instalou na economia e que levou
a um forte retrocesso do investimento privado
Julio
Gomes de Almeidajulio.almeida@brasileconomico.com.br
Os resultados industriais para 2014 não poderiam ser piores. Segundo o
IBGE divulgou ontem, que em novembro uma nova queda da produção fez com que o
setor encolhesse 0,7%, o terceiro índice negativo, uma evidência de que está em
curso um retrocesso. A indústria, como nenhum outro setor da economia, acusa as
fragilidades (ou as virtudes) da dinâmica econômica prevalecente. Também é
capaz, como poucos outros segmentos, de espalhar para o resto da economia
os seus tropeços, assim como suas expansões. No momento atual não há um único
fator relativo à economia brasileira capaz de sustentar alguma impulsão
relevante para a indústria, como também não há uma evidência clara de
que o setor externo poderá assumir esse papel como assumiu em um passado
não tão distante como em 2003, quando liderou a retomada do crescimento do
país.
A presente situação industrial reflete a crise de confiança que se
instalou na economia e que levou a um forte retrocesso do investimento privado
sem que o investimento público fosse capaz de neutralizar ou amortecer esse
processo. Não por acaso, o segmento de bens de capital teve em 2014 declínio
próximo a 9%. Bens de capital para transporte, para construção, para
agricultura e para a própria indústria foram os maiores responsáveis pela queda
da produção no setor, a qual não deve ser interrompida tão cedo, dados os
desdobramentos previsíveis do caso da Petrobras e os prováveis cortes de
investimentos públicos e de recursos para o financiamento de longo prazo.
A fragilidade industrial também espelha o esgotamento do ciclo de bens
duráveis de consumo, assim como a gradativa perda de eficácia dos instrumentos
de desoneração fiscal usados pelo governo na tentativa de bloquear mais esse
fator de regressão. Tanto quanto a produção de bens de capital, ou seja, no
patamar de 9%, caiu a atividade em bens duráveis que, assim como no caso dos
bens de inversão, não autoriza expectativa de melhora no início de 2015 — ao
contrário, a perspectiva é adversa devido à trajetória descendente do crédito e
do baixo otimismo do consumidor.
O emprego e a renda, como se sabe, já não reproduzem o brilhantismo do período 2004-2012, mas graças a um nível de ocupação muito elevado ainda são capazes de amparar o consumo de base da população. Este também vem acusando quedas sucessivas, mas aí não reside o maior problema para a indústria. O segmento de bens semiduráveis e não-duráveis ficou estagnado no ano de 2014, mas no último trimestre registrou queda significativa, talvez refletindo a piora do quadro de renda da população que se acelerou nos últimos meses. Embora em situação menos aguda de retrocesso do que em outros segmentos, também nesse caso as tendências de emprego e renda não autorizam perspectiva de melhora para este ano.
A indústria absorve em cheio também os fatores que vêm restringindo a capacidade do produto nacional de concorrer com a produção estrangeira no mercado interno ou em mercados do exterior. Por outro lado, não vem demonstrando condições de reagir ao único determinante positivo de competitividade que vem tendo lugar, qual seja, a desvalorização do real.
Isto ocorre seja porque nossa perda de competitividade é de tal ordem que nem mesmo a mudança cambial se mostra mais suficiente para impulsionar a indústria, exceto, talvez, após um longo período de significativas desvalorizações.
Ao lado das condições internacionais ainda desfavoráveis, este é o determinante da redução superior a 10% do volume exportado de manufaturas em 2014. A falta de competitividade afeta todos os segmentos industriais, diminuindo seu crescimento e tornando mais difícil sua recuperação. Influencia sobremaneira o setor de bens intermediários, cujo declínio de produção no ano passado foi próximo ao da indústria como um todo, em torno a 3%.
A situação industrial é diferente daquela que vigorou durante o último grande ajuste fiscal realizado pelo país em 2003 e o câmbio na atualidade tarda muito ou não mais apresenta os efeitos de antes, o que lhe retira o poder de servir de via de escape para a retomada do crescimento industrial.
O emprego e a renda, como se sabe, já não reproduzem o brilhantismo do período 2004-2012, mas graças a um nível de ocupação muito elevado ainda são capazes de amparar o consumo de base da população. Este também vem acusando quedas sucessivas, mas aí não reside o maior problema para a indústria. O segmento de bens semiduráveis e não-duráveis ficou estagnado no ano de 2014, mas no último trimestre registrou queda significativa, talvez refletindo a piora do quadro de renda da população que se acelerou nos últimos meses. Embora em situação menos aguda de retrocesso do que em outros segmentos, também nesse caso as tendências de emprego e renda não autorizam perspectiva de melhora para este ano.
A indústria absorve em cheio também os fatores que vêm restringindo a capacidade do produto nacional de concorrer com a produção estrangeira no mercado interno ou em mercados do exterior. Por outro lado, não vem demonstrando condições de reagir ao único determinante positivo de competitividade que vem tendo lugar, qual seja, a desvalorização do real.
Isto ocorre seja porque nossa perda de competitividade é de tal ordem que nem mesmo a mudança cambial se mostra mais suficiente para impulsionar a indústria, exceto, talvez, após um longo período de significativas desvalorizações.
Ao lado das condições internacionais ainda desfavoráveis, este é o determinante da redução superior a 10% do volume exportado de manufaturas em 2014. A falta de competitividade afeta todos os segmentos industriais, diminuindo seu crescimento e tornando mais difícil sua recuperação. Influencia sobremaneira o setor de bens intermediários, cujo declínio de produção no ano passado foi próximo ao da indústria como um todo, em torno a 3%.
A situação industrial é diferente daquela que vigorou durante o último grande ajuste fiscal realizado pelo país em 2003 e o câmbio na atualidade tarda muito ou não mais apresenta os efeitos de antes, o que lhe retira o poder de servir de via de escape para a retomada do crescimento industrial.