ONU confirma massacre no Sudão do Sul em abril de
2014; pelo menos 353 pessoas morreram
Relatório concluiu
que ataques nas cidades de Bentiu e Bor tiveram deliberadamente como alvo
vítimas com base em sua etnia, nacionalidade ou percebido apoio a uma das
partes envolvidas no conflito em curso no país.
Uma mãe deslocada
internamente e seus filhos no Sudão do Sul. Foto: UNMISS/Gideon Pibor
A Divisão de
Direitos Humanos da Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (UNMISS) divulgou um
relatório nesta sexta-feira (9) afirmando que há “motivos razoáveis” para crer
que pelo menos 353 civis foram assassinados e outros 250 feridos
em ataques nas capitais dos estados de Unity e Jonglei. Os crimes ocorreram
entre 15 de abril e 17 de abril de 2014.
Após ter coletado e
analisado evidências físicas e entrevistado 142 fontes, o relatório concluiu que os ataques nas cidades de Bentiu e Bor
tiveram deliberadamente como alvo vítimas com base em sua etnia, nacionalidade
ou percebido apoio a uma das partes envolvidas no conflito, disse a Missão da
ONU por meio de um comunicado de imprensa.
“Tanto em Bentiu
quanto em Bor, ataques aconteceram contra locais protegidos – um hospital, uma
mesquita e uma base das Nações Unidas –, o que pode constituir crimes de
guerra”, disse o relatório. “Embora o conflito tenha sido marcado por graves
abusos e violações dos direitos humanos e violações graves do direito
internacional humanitário, estes dois eventos parecem representar o pior
momento do conflito.”
O ataque em Bentiu,
capital do estado de Unity, ocorreu depois que as forças de oposição retomaram
o controle da cidade, o retirando das tropas do governo. O relatório diz que
pelo menos 287 civis – principalmente comerciantes sudaneses e suas famílias,
que foram alvejados com base em suas origens de Darfur – foram mortos em uma
mesquita; antes, outros 19 civis foram mortos no Hospital Civil de Bentiu.
Dois dias depois,
um local de proteção civil da UNMISS próximo à capital do estado de Jonglei,
Bor, foi atacado por um grupo de homens armados que exigiam a expulsão de todos
os jovens da etnia Nuer. Após entrar à força no local de proteção, uma multidão
assassinou, saqueou e sequestrou pessoas deslocadas internamente, deixando pelo
menos 47 pessoas mortas, todas identificadas no relatório.
“A UNMISS condena
veementemente o assassinato contínuo e o deslocamento de civis, com base em sua
identidade étnica, quase nove meses após os acontecimentos de abril de 2014”,
disse a representante especial do secretário-geral da ONU para o Sudão do Sul,
Ellen Margrethe Loej. “Isso poderia levar a uma polarização ainda maior do país
em linhas étnicas, com repercussões potencialmente graves para a situação dos
direitos humanos e as perspectivas para a reconciliação.”
Quase nove meses
depois dos ataques, ninguém foi responsabilizado nem pelo governo nem pela
oposição. O relatório da ONU acrescenta que foram tomadas poucas medidas de
responsabilização em resposta ao incidentes.
O porta-voz do Alto
Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH), Rupert Colville ,
confirmou durante uma coletiva de imprensa ocorrida nesta sexta-feira (9) em
Genebra que não houve responsabilização de contas pelas “atrocidades em massa,
violações dos direitos humanos e abusos que causaram a morte de dezenas de
milhares de pessoas no Sudão do Sul”.
Colville também
disse que o seu escritório está preocupado com a falta de progresso no processo
de paz. “Há um risco real de que os conflitos continuem. Há uma necessidade
urgente de concluir um acordo de paz, respeitar o Acordo de Cessação das
Hostilidades e garantir que anistias não sejam concedidas por violações graves.
Sem paz, a epidemia de fome continuará a ser uma possibilidade em 2015.”
Segundo as Nações
Unidas, o conflito em curso no país tem consequências terríveis para a
população civil, especialmente mulheres e crianças, que têm suportado o peso da
violência. Mais de 1,9 milhão de pessoas permanecem deslocadas, com outros
Estados na região hospedando quase 500 mil sul-sudaneses.