Crise na Petrobras piora
cenário da indústria de bens de capital
Empresas do país
sofrem com inadimplência de empreiteiras e com a redução de 30% nos
investimentos em obras da estatal
Patrycia
Monteiro Rizzottopmonteiro@brasileconomico.com.br
São Paulo - Após o terceiro ano sucessivo de queda de faturamento em
2014, com recuo acumulado superior a 20% em quatro anos, a indústria de bens de
capital estima mais perdas este ano e teme pelos impactos da redução de 30% nos
investimentos anunciados pela Petrobras. “O cancelamento das obras das
refinarias Premium I e II, no Maranhão e no Ceará, foi um balde de água fria
para os fabricantes nacionais de máquinas e equipamentos que já estão sofrendo
com contas não pagas por empresas contratadas pela Petrobras”, afirmou José
Velloso Dias Cardoso, presidente executivo da Associação Brasileira da
Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
Segundo a entidade, das 400 empresas do setor que atuam no segmento de
petróleo e gás, cerca de 120 estão enfrentando problema de inadimplência, sendo
que 30 delas relatam que têm R$ 200 milhões a receber. “Estamos concluindo um
levantamento sobre a situação das empresas que atuam no segmento e em breve
consolidaremos as cifras. Vamos nos reunir com Graça Foster na próxima
quarta-feira (4) para discutir a questão e tentar sensibilizá-la”, conta
Cardoso, mencionando que a participação do segmento de petróleo e gás no
faturamento do setor é de R$ 8 bilhões.
De acordo com Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq, a queda na
atividade econômica e no nível de investimento no país no ano passado foram os
principais fatores que levaram o setor a registrar uma queda de 13,7% no
faturamento em relação a 2013, resultando no corte de 13 mil postos de
trabalho. “As perspectivas para 2015 não são animadoras. Infelizmente, até
agora a equipe econômica do governo só apresentou um pacote de maldades,
anunciando os aumentos de impostos e dos juros, que só fazem elevar o custo
Brasil. Nos próximos dias, teremos uma série de audiências com ministros, onde
vamos expressar a nossa insatisfação e pedir para que a presidenta anuncie
também um pacote de bondades que contribua para melhorar a competitividade da
indústria brasileira”, disse, destacando que a formação bruta de capital deve
ficar abaixo dos 17% do PIB em 2014, enquanto a média mundial é de 25,4%.
Na semana que vem, representantes da Abimaq vão se reunir com os
ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria
e Comércio), o presidente do BNDES Luciano Coutinho e o presidente do Banco
Central, Alexandre Tombini.
Pastoriza contou que se reuniu recentemente com o ministro do
Planejamento, Nelson Barbosa, que não deu grandes esperanças de que o programa
de Modernização do Parque Industrial Nacional (Modermaq) — uma das principais
reivindicações do setor — saia do papel este ano. “A presidenta insinuou que
dará incentivos às exportações, mas medidas pontuais não são suficientes para
revigorar a indústria de transformação brasileira. Precisamos de medidas mais estruturantes”,
argumenta, dizendo que medidas como o Reintegra e a desoneração da folha de
pagamento são benéficas, mas correspondem a uma pequena fração do custos do
setor.
De acordo com dados da Abimaq, o único indicador positivo de 2014 foi o
aumento de 7,4% nas exportações, que totalizaram US$ 13,3 bilhões em receitas,
correspondendo a 45% do faturamento total do setor — percentual bem acima da
média histórica de 32%. Os principais mercados consumidores de máquinas e
equipamentos brasileiros foram os países da América do Sul, com 34,1% de
participação no geral das receitas, seguidos pelos Estados Unidos, com 28,7%, e
a Europa, com 19,4%. “Entre as maiores economias mundiais, os Estados Unidos
serão os únicos a registrar crescimento este ano, por isso acreditamos que
haverá um aumento das vendas para o mercado americano.
Caso o real continue o processo de depreciação, a expectativa é que as
exportações cresçam em 2015”, diz Mario Bernardini , assessor econômico da
Abimaq. As importações do setor caíram 12,1% em relação a 2013, contribuindo
para reduzir em 24,2% o déficit da balança comercial do setor de US$ 15,2
bilhões. Atualmente as máquinas e equipamentos importados detém 71% de
participação no mercado.