sexta-feira, 16 de janeiro de 2015


Seca e calor anulam políticas para poupar água em hidrelétricas do país

Seca e forte calor em grande parte do país anulam políticas para economia de água nos reservatórios das hidrelétricas, que voltaram a cair depois de leve recuperação em dezembro

Nicola Pamplonanicola.pamplona@brasileconomico.com.br

Rio - A estiagem atípica em janeiro está anulando os efeitos da política do governo para poupar água nos reservatórios das hidrelétricas. Mesmo com as térmicas operando a plena carga, o volume de energia armazenada nas usinas do Sudeste e do Centro-Oeste acumulam queda de 0,5% nos primeiros 14 dias de janeiro, depois de leve recuperação em dezembro. Com o forte calor, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) já detectou três recordes regionais de demanda instantânea por energia neste mês, dois no Nordeste e um no Sudeste/Centro-Oeste. Sem recomposição dos reservatórios,a tendência é que a energia permaneça cara por mais tempo.

Os recordes de demanda instantânea foram atingidos nos dias 13 e 14. Às 14h23 do dia 13, a demanda Centro-Oeste chegou a 51.295 megawatts (MW), superando em 34 MW o recorde anterior, de fevereiro de 2014. Às 15h42 do mesmo dia, a demanda no Nordeste bateu 11.950 MW médios, 11 MW a mais do que o recorde de setembro de 2014. O consumidor nordestino bateu nova marca histórica às 15h59 do dia 14: 11.999 MW. “A causa se deve às altas temperaturas e ao índice de desconforto térmico, na hora de maior insolação”, avaliou o ONS, em comunicado divulgado para informar as demandas máximas do dia 13.

A tendência, segundo especialistas, é que o calor se mantenha e que novos recordes sejam quebrados ainda este ano, a exemplo do que ocorreu em 2014 — apenas em janeiro, o ONS divulgou nove comunicados de novos recordes de demanda instantânea. “Há um sistema de alta pressão que inibe a formação de nuvens sobre a região Sudeste”, diz o meteorologista Fábio Rocha, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/Inpe). “Por conta disso, vamos continuar tendo dias quentes e com pouca chuva, principalmente em Rio, Espírito Santo e Minas Gerais. Em São Paulo, podem haver pancadas localizadas”.

A indústria tem colaborado, com um consumo de energia em retração, mas há sinais de que o consumo residencial e comercial permanece em ascensão no país, depois de liderarem os indicadores de crescimento por todo o ano passado. Além dos recordes pontuais no consumo, houve aumento de 15,77% na venda de aparelhos de ar condicionado em 2014. A refrigeração de ambientes vem tomando do chuveiro elétrico o papel de vilão do setor elétrico brasileiro, ao gerar novos horários de pico de demanda e gerar a necessidade de investimentos em ampliação da capacidade de distribuição de energia.

A expectativa é que fevereiro seja tão quente quanto janeiro, mas o professor Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia da UFRJ (Gesel), diz que o início da vigência das bandeiras tarifárias pode ajudar a conter a demanda. “Quando as pessoas receberem a primeira conta com valores mais altos, podem começar a adotar medidas para racionalizar o consumo”, acredita ele. A grande procura por aparelhos de ar condicionado neste início de ano, porém, indica que o conforto ainda está vencendo a economia na preferência do brasileiro.

Em dezembro, com mais chuvas e menos consumo de eletricidade, as políticas operativas do setor elétrico garantiram um aumento de 3,4% no nível dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste, principal caixa d’água do sistema elétrico brasileiro, depois de meses consecutivos de queda. Segundo dados divulgados pelo instituto Ilumina, as usinas hidrelétricas brasileiras têm hoje água para suportar apenas pouco mais de 1 mês de consumo — após o período chuvoso de 2004, eram cinco meses.

Por isso, as térmicas têm contribuído com quase 20% da oferta de energia no país, com grande impacto sobre as tarifas de energia. Além do custo, o aumento do consumo residencial pode ter impactos na qualidade do serviço, uma vez que as redes de distribuição estão sobrecarregadas e há pouco recurso no caixa das distribuidoras para investimentos.