Seca e calor anulam
políticas para poupar água em hidrelétricas do país
Seca e forte calor
em grande parte do país anulam políticas para economia de água nos
reservatórios das hidrelétricas, que voltaram a cair depois de leve recuperação
em dezembro
Nicola
Pamplonanicola.pamplona@brasileconomico.com.br
Rio - A estiagem atípica em janeiro está anulando os efeitos da política
do governo para poupar água nos reservatórios das hidrelétricas. Mesmo com as
térmicas operando a plena carga, o volume de energia armazenada nas usinas do
Sudeste e do Centro-Oeste acumulam queda de 0,5% nos primeiros 14 dias de
janeiro, depois de leve recuperação em dezembro. Com o forte calor, o Operador
Nacional do Sistema Elétrico (ONS) já detectou três recordes regionais de
demanda instantânea por energia neste mês, dois no Nordeste e um no
Sudeste/Centro-Oeste. Sem recomposição dos reservatórios,a tendência é que a
energia permaneça cara por mais tempo.
Os recordes de demanda instantânea foram atingidos nos dias 13 e 14. Às
14h23 do dia 13, a demanda Centro-Oeste chegou a 51.295 megawatts (MW),
superando em 34 MW o recorde anterior, de fevereiro de 2014. Às 15h42 do mesmo
dia, a demanda no Nordeste bateu 11.950 MW médios, 11 MW a mais do que o
recorde de setembro de 2014. O consumidor nordestino bateu nova marca histórica
às 15h59 do dia 14: 11.999 MW. “A causa se deve às altas temperaturas e ao
índice de desconforto térmico, na hora de maior insolação”, avaliou o ONS, em
comunicado divulgado para informar as demandas máximas do dia 13.
A tendência, segundo especialistas, é que o calor se mantenha e que
novos recordes sejam quebrados ainda este ano, a exemplo do que ocorreu em 2014
— apenas em janeiro, o ONS divulgou nove comunicados de novos recordes de
demanda instantânea. “Há um sistema de alta pressão que inibe a formação de
nuvens sobre a região Sudeste”, diz o meteorologista Fábio Rocha, do Centro de
Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/Inpe). “Por conta disso, vamos
continuar tendo dias quentes e com pouca chuva, principalmente em Rio, Espírito
Santo e Minas Gerais. Em São Paulo, podem haver pancadas localizadas”.
A indústria tem colaborado, com um consumo de energia em retração, mas
há sinais de que o consumo residencial e comercial permanece em ascensão no
país, depois de liderarem os indicadores de crescimento por todo o ano passado.
Além dos recordes pontuais no consumo, houve aumento de 15,77% na venda de
aparelhos de ar condicionado em 2014. A refrigeração de ambientes vem tomando
do chuveiro elétrico o papel de vilão do setor elétrico brasileiro, ao gerar
novos horários de pico de demanda e gerar a necessidade de investimentos em
ampliação da capacidade de distribuição de energia.
A expectativa é que fevereiro seja tão quente quanto janeiro, mas o
professor Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto
de Economia da UFRJ (Gesel), diz que o início da vigência das bandeiras
tarifárias pode ajudar a conter a demanda. “Quando as pessoas receberem a
primeira conta com valores mais altos, podem começar a adotar medidas para
racionalizar o consumo”, acredita ele. A grande procura por aparelhos de ar
condicionado neste início de ano, porém, indica que o conforto ainda está
vencendo a economia na preferência do brasileiro.
Em dezembro, com mais chuvas e menos consumo de eletricidade, as
políticas operativas do setor elétrico garantiram um aumento de 3,4% no nível
dos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste, principal caixa d’água do
sistema elétrico brasileiro, depois de meses consecutivos de queda. Segundo
dados divulgados pelo instituto Ilumina, as usinas hidrelétricas brasileiras
têm hoje água para suportar apenas pouco mais de 1 mês de consumo — após o
período chuvoso de 2004, eram cinco meses.
Por isso, as térmicas têm contribuído com quase 20% da oferta de energia
no país, com grande impacto sobre as tarifas de energia. Além do custo, o
aumento do consumo residencial pode ter impactos na qualidade do serviço, uma
vez que as redes de distribuição estão sobrecarregadas e há pouco recurso no caixa
das distribuidoras para investimentos.