'O setor elétrico
brasileiro perdeu suas linhas de defesa'
Presidente da PSR,
empresa que desenvolve modelos computacionais para o setor elétrico, Mario
Veiga diz que o país precisa ter realismo energético para evitar perdas ainda
piores
Nicola
Pamplonanicola.pamplona@brasileconomico.com.br
O que, de fato, aconteceu na última segunda-feira?
A cada segundo, o total de geração tem que ser igual ao total de
demanda. Se você agora acender a luz, um gerador a centenas de quilômetros de
distância reagirá para lhe atender. E para eu ter capacidade de injetar energia
ou retirar energia instantaneamente, é preciso ter reserva no sistema. Então,
na operação do dia a dia, há a geração de energia que é fisicamente igual à
demanda e é preciso ter uma reserva, que é chamada de reserva girante, porque o
equipamento tem que estar prontinho para entrar, igual a um jogador de futebol
que já está aquecido e pronto para entrar em campo. Essa reserva girante,
segundo o padrão internacional, que também vale para o Brasil, precisa ser de
5% da demanda. Na segunda-feira, a demanda estava em torno de 86 mil MW. Assim,
a reserva precisaria ser de 4,3 mil MW — ou seja, era necessário que tivéssemos
90 mil MW. O que acontece se não tem essa reserva? Na hora em que a demanda
passar de 86 mil para 86,1 mil, já não consegue atender à demanda e aí os
geradores começam a girar mais devagar. É uma situação análoga a quando você
está andando de bicicleta no plano e começa a subir uma ladeira: você começa a
pedalar mais devagar. Mas, no setor elétrico, não pode girar mais devagar,
porque os aparelhos queimam. E os geradores têm um sistema de proteção, chamado
relé de subfrequência, um sensor que fica medindo quantas vezes tudo está
girando. Se este sistema passar de 60 Hz para 59 Hz, o relé desliga o gerador,
a geração cai e a frequência cai ainda mais, e aí cai outro gerador. E aí tem
efeito dominó, que pode chegar a um desligamento total, que seria péssimo.
Por isso a determinação do ONS para aliviar a carga?
Isso. A medida do ONS é correta. Em outros países, isso é feito
antecipadamente toda vez que a reserva cai. Nos EUA, se a reserva cair abaixo
de 3%, o operador já começa a fazer correções. O que chamou a atenção no caso
de segunda-feira foi que, na maior parte dos países, há uma espécie de aviso, o
operador começa a monitorar a reserva caindo e já manda um sinal amarelo, de
que há risco de que haja corte de carga. No caso do Brasil, essa medida foi
tomada sem qualquer aviso. E é por isso que, embora o ONS fale que é um
desligamento de carga, a melhor expressão é blackout preventivo. Porque a
definição de blackout é uma interrupção inesperada da demanda. É como se o ONS
tivesse adotado um blackout preventivo para evitar um blackout descontrolado. A
ação emergencial tomada foi correta, mas a pergunta importante é: por que
chegamos a essa situação?
Qual o seu diagnóstico?
Na minha opinião, chegamos a essa situação emergencial porque, ao longo
dos últimos três anos, fomos perdendo as linhas de defesa. É claro que, se a
demanda varia e sobe de repente, os geradores quebram, isso é corriqueiro. É
claro que linhas importantes como a Norte-Sul também saem. E, da mesma maneira,
é claro que tem meses em que as vazões são muito ruins. Então, ninguém
planejaria um sistema para ficar vulnerável a coisas tão corriqueiras.
Planeja-se um sistema que seja blindado contra essas variações. A queda de uma
linha é a causa imediata de um apagão. Pode ser. Mas não é a causa estrutural.
Nossa primeira linha de defesa é o armazenamento nos reservatórios. E nós
esvaziamos completamente os reservatórios. No início de 2015, chegamos ao pior
nível da história. Muita gente diz que é porque tivemos três anos de seca. Isso
não é verdade. O ano de 2012 foi um ano bem razoável, com 90% da média
histórica. O ano de 2013, para surpresa de muita gente, foi um ano muito bom,
que cravou a média histórica. E por que se esvaziaram? Porque o sistema está
com menos capacidade real, efetiva, de produzir energia do que os números
teóricos dizem.
Como assim?
Desde 2010, está havendo um esvaziamento anômalo dos reservatórios. Se
você roda os modelos de planejamento para saber onde estaria o sistema no final
de 2013, usando exatamente as mesmas informações de demanda e de geração que
ocorreram em 2013, o modelo diria que chegamos ao final do ano de uma maneira,
mas a realidade é outra. Há uma diferença gigantesca.
O que explica isso?
O que explica isso?
Em primeiro lugar, o sistema de transmissão, na vida real, está com
muito mais problemas e restrições do que os modelos do governo indicam. O
segundo fator é que a eficiência de produção das usinas hidrelétricas — quer
dizer, quanta água elas precisam para produzir um megawatt-hora — na vida real
é bem pior do que os modelos dizem. E a terceira coisa é muito específica do
Rio São Francisco. Este ano estamos com uma seca severa no São Francisco. Mas
em 2013, teve seca abaixo da média também; em 2012, também foi abaixo da média;
e, em 2011, abaixo da média, apesar de ter sido o quarto ano mais molhado da
história no Brasil inteiro. Aí, resolvi perguntar há quantos anos o São
Francisco está abaixo da média. O São Francisco está abaixo da média há 20
anos! Ora, se está assim há 20 anos, é porque a média está errada. Mas os
modelos continuam, de forma otimista, sempre achando que vai ocorrer a média.
Então, o planejamento está sendo feito com dados irreais?
Sim, irreais. A combinação de São Francisco abaixo da média com
restrições de transmissão e com as hidrelétricas não produzindo o que deveriam
causa discrepância. Quando conversamos com o operador do sistema, ele diz que a
discrepância é pequena, de 2%. Sim, mas 2% por mês. Olhando dois meses, dá 4%.
E aí, ao final de três anos, a discrepância fica gigantesca. E é isso que
explica a diferença entre os estudos do Comitê de Monitoramento do Setor
Elétrico (CMSE), que sempre dizem que está tudo bem, e a realidade. Qual a
grande diferença entre as projeções feitas pela PSR e as projeções feitas pelo
governo? Os modelos computacionais são idênticos, fomos nós quem escrevemos a
metodologia dos modelos que o governo usa. A diferença é que nós recalibramos
os modelos para ficarem mais aderentes à realidade.
Quando perceberam isso?
Nós alertamos em 2010 que tinha alguma coisa errada. Começamos 2010 com
o melhor armazenamento da história. Mas, ao longo do ano, o sistema estava
desabando. Aí começamos a analisar e identificamos esse esvaziamento anômalo.
Alertamos o governo, tivemos muito diálogo com o pessoal do Planejamento para
alertar que estava acontecendo algo. Mas não é tão óbvio, porque as usinas
hidrelétricas não têm medidores para medir quanta água passa pelas turbinas. Em
muitos casos, o cálculo do volume de água é feito com base na energia produzida
e em um coeficiente de eficiência teórico. É o contrário. Mas, justiça seja
feita, a Aneel está há muitos anos tentando que esses medidores sejam
instalados. Também a ANA e o ONS começaram a fazer uma campanha de aferição do
São Francisco. É excelente começar a verificar as causas do problema. Mas o
problema existe. É como chegar no hospital com hemorragia. É ótimo, depois,
verificar com calma as razões daquilo, mas na hora é anticoagulante e
transfusão. O que seria o equivalente ao anticoagulante? Na nossa opinião
seria, em 2010, já contratar 2,5 mil MW para dar um reforço emergencial. Não quero
nem saber, em um primeiro momento, porque é que houve o problema. Quero é
impedir que o paciente entre em choque.
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Sim. Se tivesse sido feito, esse reforço teria entrado em 2013 e nada
disso teria acontecido. Então, a gente foi perdendo sucessivamente linhas de
defesa. Em 2014, já estava claro que o sistema iria terminar o ano extremamente
baixo. Essa foi a razão pela qual nós recomendamos em maio que se fizesse
redução do consumo. Chegaríamos ao final do ano com mais energia armazenada e
isso daria tranquilidade. E o governo, de certa forma, confiou que fosse
chover. E agora estamos em uma situação muito desconfortável. Não é correto
culpar São Pedro. Também não é correto dizer que foi porque a linha caiu, que o
gerador saiu. Eu acho até que é pior para a população, porque quer dizer que
toda hora que uma linha cair, vai cair o abastecimento. É claro que o pessoal
da operação é muito mais competente do que isso. Isso só está dando estresse
porque perdemos as linhas de defesa. A terceira linha de defesa que perdemos é
mais sutil. A gente teve uma saraivada de blecautes nos últimos anos. Se você
verificar os índices de desempenho do sistema de transmissão nos últimos anos,
eles são piores que os próprios padrões do ONS. Muita gente pensa que é porque
atrasou a transmissão. Mas os últimos têm ocorrido, na imensa maioria, porque
houve falhas nas subestações. Isso é um problema de manutenção. E uma das
razões que agravou isso nos últimos anos foram as restrições financeiras das
empresas federais, que é uma das consequências da MP 579. Então, o que temos de
confluência: perdemos a primeira linha de defesa, que era ter capacidade
estrutural de geração para compensar o esvaziamento anômalo. Perdemos a segunda
linha de defesa, quando apostamos que iria chover. E perdemos a terceira linha
de defesa, com a deterioração do sistema de transmissão. E agora, estamos em
uma situação complicada, em que temos pouca margem de manobra e qualquer coisa
acidental pode causar problema. E a pergunta é: a água que temos dentro dos
reservatórios, mais as termelétricas, biomassa e eólicas, vai ser suficiente
para atender a demanda durante todo o ano? Começa a ficar muito preocupante.
Qual a probabilidade de racionamento este ano?
Olhando agora, no final de janeiro, e levando em consideração que todo
mundo torce para chover em fevereiro e março, existe, na nossa conta, 50% de
probabilidade de não termos capacidade suficiente de energia.
Mas se os dados são conhecidos, e o risco está sendo alertado, por que o
governo não toma medidas?
Em primeiro lugar, precisamos ser justos. Veja o comportamento do
governo de São Paulo com relação à água. É igualzinho. O quadro geral que se
instalou na cabeça dos governantes é que, politicamente, admitir a escassez ou
fazer apelos para racionalização dá problema. Eu considero que isso é quase uma
ofensa à maturidade da população brasileira, que já passou por crises cambiais
horrorosas, que já passou por hiperinflação, que já reagiu magnificamente
quando tivemos problema de suprimento de energia. Achar que essa população não
consegue entender que estamos em uma situação difícil é complicado.
E o ONS, não deveria ter uma postura mais combativa?
ONS é o sujeito que pilota o avião. E ele pilota o avião com os recursos
que tem. O governo diz que ele tem um Airbus 380 mas, na prática, ele tem um
Sucatão. Ele está tomando medidas absolutamente heróicas para o avião não cair.
Várias vezes o Hermes Chipp (presidente do ONS) declarou em público que era
importante colocar termelétricas. Dentro do que ele pode fazer, que é alertar,
ele fez. Mas acho que não é papel do operador do sistema vir a público e rasgar
as vestes. A questão, nesse aspecto das responsabilidades, é: os estudos de
planejamento estão indicando que há problemas. Há uma defasagem entre as
projeções e a realidade operativa. E essa união entre planejamento e operação
deveria ser equacionada no CMSE. E aí, não tenho conhecimento para dizer por
que não há o grau necessário de coordenação. E também não vale à pena chorar
pelo leite derramado. A realidade é que o país perdeu janelas de oportunidade
para evitar a queda das linhas de defesa. E a última arma, a racionalização do
consumo, não foi usada. É excelente que o Brasil tenha entrado no realismo
fiscal. Também, felizmente, entramos no realismo tarifário. Quem sabe a gente
não completa o tripé e entramos no realismo energético? Enquanto não entrarmos
no realismo energético, ficamos numa situação em que todo mundo perde. Se o
governo fizesse um apelo, se aparecesse na televisão dizendo: “Gente, a conta
de luz vai subir, então a economia vai ser boa para o país, e para o bolso de
vocês”... É um mote muito legal, mesmo do ponto de vista do consumidor. Uma
situação em que todo mundo ganha. Se não alertar e der o azar de não conseguir
atender, os consumidores estarão pagando muito caro por um produto que não
existe, o que pode gerar um desgaste político gigantesco, uma situação em que
todo mundo perde. Inclusive, existe uma unanimidade impressionante entre
analistas, independentemente de sua visão do sistema elétrico, de que medidas
de racionalização só têm vantagens.
Mas o governo ainda não parece sensibilizado...
É um assunto que causa certa perplexidade. As notícias dos jornais hoje
(quinta-feira) são até interessantes: há um apoio muito grande ao Joaquim Levy
(ministro da Fazenda), uma resposta muito positiva, pela sinceridade. O Joaquim
Levy não estava dando boas notícias em Davos. Pelo contrário, eram notícias
muito ruins. Mas o que os investidores veem? Que vamos passar por um período
difícil porque estamos colocando a casa em ordem. Mas, em 2016 ou 2017, a coisa
vai melhorar. É tudo o que o investidor precisa. O que afasta os investidores é
a incerteza, é a sensação de que a coisa está com pouco rumo.
O que o sr. quer dizer com “realismo energético”?
No curtíssimo prazo só se pode fazer um apelo pela racionalização. No
médio prazo, temos que recompor a capacidade de produção do sistema e, em paralelo,
fazer uma reavaliação das deficiências estruturais e institucionais que
precisam ser sanadas. Em setembro de 2001, estava todo mundo tranquilo, o
racionamento já ia acabar, a população tinha reagido de uma maneira fantástica.
E aí, o ministro Pedro Parente começou um grupo de trabalho, que era chamado de
grupo de revitalização, para analisar as causas profundas que nos levaram
àquela situação. E a partir disso se fez uma série de análises, com a
participação de todos os agentes, dos problemas no desenho institucional e
regulatório, apontando soluções. Esse conjunto de documentos, que era uma
análise muito objetiva, muito crítica e muito construtiva, foi uma das fontes
de informação da então ministra Dilma Rousseff, já no início do governo
seguinte. Se você olhar a documentação que foi feita pelo grupo de
revitalização no final de 2001 e o desenho geral do modelo do setor elétrico,
tem muitas coisas em comum. E é assim que as coisas avançam. Dá errado, se
analisa objetivamente e conserta. O suprimento de energia elétrica é uma
questão da sociedade, é uma questão da população, não é uma questão de governo.
Essas questões já foram levadas ao governo?
Várias associações, como o Fórum das Associações do Setor Elétrico, têm
levado sugestões. Sei que tiveram reunião com o ministro Eduardo Braga. Sei que
a Academia Nacional de Engenharia está levando outro documento. Mas temos que
ter um pouco de paciência porque o ministro acabou de entrar. Está conversando,
tomando pé da situação. Acho que só depois desse período é que vamos ver o que
o governo vai fazer. Mas, por exemplo, em termos de sinalização, acho que São
Paulo andou mais rápido, porque tanto o Benedito Braga na Secretaria de
Recursos Hídricos, quanto o Jerson Kelman na Sabesp, sinalizam uma reorientação.
É possível que, no caso do MME, aconteça a mesma coisa. Mas temos que esperar
para ver.
Como o sr. vê a expansão de longo prazo?
Temos oportunidades absolutamente extraordinárias, o Brasil é
fantástico. Sou um grande entusiasta dos recursos naturais brasileiros. Temos
dois portfólios, o das renováveis e o das termelétricas. Nas renováveis, é
claro que a grande estrela é a hidrelétrica, mas tem eólica, biomassa e, agora,
a solar. A eólica tem um padrão de produção que é complementar com a
hidrelétrica e com a biomassa. Então, se, por alguma razão não conseguirmos
construir mais hidrelétricas, podemos aumentar bastante a participação de
eólica e biomassa. E, embora o leilão de solar tenha sido bem sucedido, na
nossa opinião o grande mercado para esta fonte está na geração distribuída.
Porque uma solar, do lado da geração, está competindo com eólicas a R$ 100 por
MWh, é duríssimo. Mas uma solar na sua casa compete com a tarifa cheia, que é
R$ 600 por MWh. E, além disso, o fato de nosso consumo máximo ser devido ao ar
condicionado é perfeito para a solar. Em muitos países dizem que a solar não
adianta porque funciona de dia, enquanto o grande consumo é à noite. No Brasil,
não. O uso do ar condicionado depende do calor. Num dia nublado, a solar não
funciona direito, mas o ar condicionado está desligado. Num dia de sol, a solar
bomba e o ar condicionado também. É um negócio que encaixa muito bem.
E as térmicas?
No caso de termelétricas, é evidente que nossa opção preferencial é o
gás. Mas temos ainda uma incerteza muito grande, tem que haver equacionamento
da questão da Petrobras. E há também o fato de que, no pré-sal, o gás é
associado. Então, temos gás longe e dependente da produção de petróleo. O plano
B é Bolívia e Argentina, que são muito ricos em gás. É claro que nossa
experiência recente com a Bolívia não tem sido das mais animadoras, mas há
sinalizações do governo Evo Morales de que há interesse em reaproximar, o que é
muito bom. E a Argentina não passa pelos seus melhores momentos, mas é da vida,
tem que pensar em longo prazo. O plano B é o carvão. Os meus amigos
ambientalistas vão chiar, mas é uma ótima opção para o Brasil. Primeiro, porque
temos proporção gigantesca de energia limpa. E o fornecimento de carvão não é
muito afetado por problemas geopolíticos, o que dá muito mais previsibilidade.
A terceira opção é nuclear. Existe uma nova geração de usinas nucleares que são
montadas de maneira mais modularizada, principalmente nos EUA e na China. Se
conseguirmos reduzir o tempo de construção, a competitividade da nuclear fica
muito grande e poderíamos alavancar nossos recursos de urânio. Como nós temos
abundância de recursos, temos a vantagem de ficar de olho no que está sendo
feito no mundo e esperar para montar no cavalo na hora certa. Por exemplo,
houve um investimento muito grande dos europeus e americanos em eólica. Eles
gastarem um bocado de dinheiro para aperfeiçoar aquilo e, no momento em que
aperfeiçoou, a gente deu bote e entrou na hora certa. Está acontecendo a mesma
coisa com a solar. Eles investiram à beça para cair o preço e a gente entrou na
hora certa. Então, parte da sabedoria do planejamento é ficar de olho, não se
afobar e esperar a hora de o cavalo passar para montar.
O sr. acha que um apelo pela racionalização é suficiente ou são
necessárias medidas que doam no bolso?
Doer no bolso, já vai doer. Poderíamos aproveitar para avisar que vai
doer no bolso e pedir colaboração. No ano passado, poderia ter ido à TV para
estimular o uso racional da energia. Todo mundo ganha com isso. Hoje, já teria
que reforçar a mensagem: “Vai ser bom para o seu bolso e bom para o sistema”.
Continua todo mundo ganhando. E aí, temos que esperar até o final de abril,
para, eventualmente, pedir para apertar os cintos.
Qual seria o nível de conforto para os reservatórios?
O próprio operador tinha sinalizado que precisaria de 30%. Mas o ponto é
o seguinte: olhando agora para 2001, talvez pudéssemos ter feito um
racionamento menor. O racionamento foi mais severo porque o objetivo era
entregar o sistema em excelentes condições. A questão é: quereremos fazer o
mínimo para chegar no ano que vem e ter que ficar pedindo para São Pedro de
novo? Melhor acertar as coisas de vez. A verdade é que estamos há três anos com
térmicas ligadas o tempo todo. Isso não é brincadeira. É absolutamente anormal.