sexta-feira, 2 de março de 2012

INTENÇÃO DE PUNIR MILITARES
Gen Paulo Chagas


Caros amigos

Ao tomar conhecimento, nas primeiras horas deste 1º de março, de que
há intenção de punir os militares da reserva que assinaram manifesto
em desagravo à reação do governo e em apoio ao conteúdo do documento
publicado no site do Clube Militar, com críticas à ministros e
atitudes do governo, sinto-me na obrigação de externar minha surpresa
diante de tamanha insensatez das autoridades que assim possam estar
pensando.

Sinto-me à vontade para colocar-me no tema porquanto, por razões de
postura pessoal, não assinei o documento embora o repute justo,
legítimo e democrático.

Os militares inativos, da reserva ou reformados, têm direito legal de
manifestar-se ordeiramente e sem prejuízos de qualquer monta ao
patrimônio físico ou moral da Nação, uma vez que são cidadãos,
eleitores, como quaisquer outros, aí incluídos os baderneiros do MST
que tantos danos têm causado aos bens e aos direitos dos brasileiros
com o explícito beneplácito e apoio do próprio governo federal.

Causa-me estranheza uma atitude de tamanha discriminação quando
comparada à anistia concedida a policiais grevistas que, de armas na
mão, intimidaram o poder público e negligenciaram de seu dever
constitucional em busca de melhorias salariais, o que, em última
análise, constitui justa reivindicação por meios visceralmente
ameaçadores e ilegais, completamente diferente do documento que ora
torna-se público!

Não me causa, no entanto, pasmo ou surpresa o recurso extorcionário
adotado pelo governo para reverter a situação, colocando sob
condições, sub-repticiamente, o repasse de recursos para os projetos
de incremento da defesa da Pátria e o reajuste salarial, há muito
merecido e ansiado pelos militares.

A sujeição ao dever, colocado acima de tudo pelos soldados, faz com
que não se apercebam da manipulação de que são vítimas nas mãos de um
governo que transforma seus anseios patrióticos e profissionais em um
tipo de “bolsa defesa”, que condiciona suas ações e reações e que
tolhe seus direitos e deveres de cidadãos livres e comprometidos com a
liberdade.

Assim pensando, sou forçado a concluir, com profundo pesar, que o
interesse da administração pública não está  no incremento da defesa
nacional ou no reconhecimento do valor de seus soldados, mas sim na
compra de seu silêncio e de seu alijamento da vida cidadã, que, por
definição, outorga a todos os segmentos da sociedade o direito de
opinião e de manifestação ordeira.

Identifico, no lamentável episódio, fortes indícios da manipulação do
intelectual coletivo a criar a cizânia nas Forças Armadas e a
estimular uma divisão absurda e esdrúxula entre “ativa” e “reserva”!

É inimaginável, na vigência da democracia, defendida por convicção no
contragolpe de 1964 e construída, até com o sacrifício da vida de
irmãos brasileiros, durante os governos sob mando de militares, sequer
pensar-se em ações que estejam fora do contexto da lei e da ordem,
como, no momento, quer-se fazer parecer uma legítima manifestação de
militares inativos.

Qualquer pensamento, perspectiva ou esperança de que a reserva possa
ultrapassar os limites da disciplina e deixe de acatar as “Decisões do
Chefe”, a lei e a ordem é sintoma grave de quebra de coesão, que
merece a atenção e a preocupação de todos nós, pois representa a
derrocada diante dos interesses dos que nos querem definitivamente
fracos e inertes.

PChagas