segunda-feira, 19 de março de 2012

Migração e o IDH, uma oportunidade para o Brasil
Adolfo Menezes Melito - Presidente do Conselho de Criatividade e Inovação da Fecomercio-SP
O Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) - que trouxe análises sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das nações relativo a 2009 concentrou sua avaliação na influência das migrações.
Reflete o relatório: "A mobilidade poderá seguramente melhorar o desenvolvimento humano - nomeadamente entre deslocados, entre pessoas que permanecem nos seus locais de origem e na maioria dos que se encontram nas sociedades de destino".
A movimentação interna, dentro dos próprios países, é de longe muito maior do que o deslocamento populacional entre países. Na realidade, a migração para fora dos países de origem se dá há algum tempo - últimos 50 anos - na casa dos 3%. Já a migração dentro dos seus próprios territórios movimenta anualmente 740 milhões de pessoas ou algo perto de 12% da população mundial.
O Brasil, que ocupa a posição de número 75 no IDH (0,813, considerada elevada) tem 10,1% de deslocamentos internos, taxa de emigração de 0,5% e "estoque" de imigrantes na casa de 688 mil, metade do que foi em 1960 (1.397 mil). Em termos relativos, a taxa de imigrantes no País despencou de 1,9% em 1960 para 0,4% hoje.
O Brasil evoluiu muito pouco em IDH desde 2000, quando ocupava a posição de número 73 (duas posições melhores do que a atual), com o índice de 0,751. O México, por seu turno, melhorou ligeiramente sua posição saindo de 54º para 53º no mesmo período, tendo seu IDH saltado de 0,789 para 0,813. A evolução dos demais países foi bem superior à do Brasil no período.
Os 38 países melhores classificados em IDH - acima de 0,900 - possuem tanto o nível de movimentação de emigrantes, quanto de imigrantes, duas a três vezes superior à média geral. O porcentual de imigrantes nessas economias está entre 15 e 20%. A taxa de emigração nesses países é no mínimo 10 vezes superior à brasileira.
Segundo constata o relatório, um grupo em mudança para uma nova localidade leva consigo elementos culturais e conhecimentos que se propagam na nova região.
Igualmente esse grupo absorve características da nova localidade e, tendo como objetivo a melhoria das suas condições e qualidade de vida, empreende de maneira ainda mais determinada do que o faria no seu local de origem.
Beneficia, finalmente aqueles que ficaram na região de origem, que passam a contar com parte dos resultados financeiros oriundos da melhoria de condições dos grupos migratórios.
O estudo do PNUD enseja que esses movimentos migratórios devem ser analisados, para o correto provimento de políticas públicas. No caso brasileiro, onde o baixo nível de desenvolvimento pode também estar relacionado ao baixo nível de deslocamentos humanos, o estudo sugere o estímulo a esses movimentos.
O apagão de talentos ironicamente oferece uma oportunidade ao Brasil. Empresas podem lançar mão da imigração para completar suas necessidades de talentos. É certo que outros fatores relacionados a políticas públicas, particularmente a aceleração do movimento pela melhoria da qualidade da educação, devem ser priorizados. Mas é sempre bom contar com uma oportunidade como essa, que nos favorece.
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Adolfo Menezes Melito é presidente do Conselho de Criatividade e Inovação da Fecomercio-SP