Rio -  Episódios como o ataque a tiros à Força de Pacificação no Complexo do Alemão, ocorrido neste sábado – antes da visita do príncipe Harry – têm acontecido com frequência na região, afirmou ao iG o comandante da tropa, general Tomás Miné Ribeiro Paiva.
O oficial reconhece que o tráfico continua a existir no local e a tropa ainda enfrenta hostilidades da população, 15 meses após a ocupação e mesmo com a ação permanente dos 1.800 homens do Exército na região, com 94.684 moradores. Neste domingo, a situação é tranquila no local. Na madrugada, as patrulhas também não enfrentaram problemas.
Na maioria dos casos, os disparos contra a tropa são feitos em fuga de criminosos flagrados em bocas de fumo em becos pelos militares do Exército, durante patrulhas. Muitos estojos (cápsulas) dessas munições deflagradas, a maioria de pistola e revólver, foram recolhidos, após os ataques.
“Isso normalmente acontece quando surpreendemos uma boca de fumo em beco. Houve um aumento com a intensificação da ação da tropa. Atiram para fugir, lançam rojões, pedras, principalmente na área da Penha. Eu tinha a expectativa de que isso fosse aumentar com nossa entrada constante em becos, mas não é nada fora de controle”, afirmou o general, explicando que os episódios acontecem principalmente na Vila Cruzeiro e na Chatuba.
General vê represália intensificação de patrulhas em becos e às UPPs anunciadas
Para o general Tomás, os ataques cresceram à medida que militares passaram a ocupar becos antes menos visitados pela tropa e agora, com o anúncio da implantação de duas UPPs já neste mês na região.
Em outras ocasiões, a hostilidade se manifesta de outra maneira: são lançadas pedras e garrafas contra a tropa, muitas vezes por crianças. Até o próprio general Tomás já foi alvejado – mas não atingido – por um tijolo, numa patrulha noturna. 
Segundo o general, com o aumento das patrulhas, aumentaram consideravelmente as apreensões de drogas e armas. Apenas em fevereiro, o Exército recolheu 7.000 papelotes de cocaína, cinco armas curtas (pistolas e revólveres), quatro simulacros de fuzis (feitos de madeira) e 16 rádios-transmissores usados por traficantes para comunicação, além de um carregador de fuzil com 18 cartuchos e um saco com cerca de 40 munições da arma longa.
O general afirma que não viu, mas acredita que haja fuzis ainda na região, onde foram apreendidos ao menos 135 armas longas (entre fuzis, 11 metralhadoras .30 e uma .50) após a ocupação.
“Está muito melhor do que estava, mas ainda precisa melhorar muito. Não se pode ter a ilusão de que se resolve num passe de mágica, porque não é assim. O problema é muito mais complexo e ainda vai demorar. É preciso haver uma política antidrogas, a atuação do Conselho Tutelar e muitas outras iniciativas sociais”, afirmou o general.
Como exemplo, o comandante conta que, durante uma patrulha de madrugada, os militares abordaram dois meninos de cerca de 10 anos que tinham jogado pedras contra a tropa, no Beco da Rainha. Em seguida apareceu um outro menino, que gritou: “Nós somos o bonde do FB (Fabiano Atanazio da Silva, ex-chefe do tráfico no Complexo do Alemão, preso em janeiro, em Campos do Jordão)! Solta o cara!”
As informações são do repórter Raphael Gomide, do iG