terça-feira, 16 de junho de 2015


céu é o limite?


Com a atividade econômica travada, a taxa básica em torno de 14% parece suficiente. Mas não é este o teto da dupla Levy-Tombini


Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

São favas contadas no mercado financeiro: os juros básicos vão continuar a subir e podem chegar a até 15% nos próximos meses. Com a presidente Dilma Rousseff “agoniada” com a inflação e o Banco Central se dizendo “vigilante” em relação à alta dos preços, só restará ao Copom, em sua reunião de 28 de julho, dar nova volta no torniquete da Selic, que será elevada de 13,75% para 14,25%. Mas, se a alta dos juros é líquida e certa, crescem as dúvidas sobre a estratégia do BC.

Até mesmo o PT, convencido a não atacar o ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy no relatório oficial de seu 5º Congresso Nacional, considera que a atual política monetária é incompatível com as promessas de retomada da economia. Eis, a propósito, a opinião do presidente do partido, Rui Falcão: “O PT não acredita que é possível retomar o crescimento provocando recessão. Nem que se possa combater a inflação com juros escorchantes e desemprego de trabalhadores e máquinas”.

Também continuam céticos os economistas que não seguem a cartilha ortodoxa. Em entrevista ao Brasil Econômico, o professor Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, afirmou que “se você tem um choque de oferta, de preços, como nós estamos vendo, não deve reagir assim aumentando os juros, pois o custo no desempenho da renda e do produto será muito maior”. Ele ressalta também que há o risco de se anularem os efeitos do ajuste fiscal. “O governo está perseguindo um aumento do superávit fiscal, mas, ao mesmo tempo, com o choque de juros, está aumentando o déficit nominal. Há um problema de descoordenação”. A respeito de Bellluzzo, sempre se poderá dizer que ele pertence a uma escola antagônica ao pensamento neoliberal. Mas o curioso é que até mesmo economistas responsáveis pelos estudos dos bancos comerciais acham que nova alta da Selic não tem respaldo técnico.

Logo após a última reunião do Copom, Ilan Goldfajn e Caio Megale, do Banco Itaú, concluíram que a atividade econômica em queda deveria “convencer o Banco Central a interromper o ciclo de alta”. E justificaram a previsão: “A produção industrial e as vendas no varejo indicam nova queda do PIB no segundo trimestre, e possivelmente no terceiro.Desta forma, entendemos que o Copom concluirá que a Selic no patamar atual, de 13,75%, já é suficiente para promover uma desinflação importante em 2016”. Divulgada a ata da reunião, que não deixou margem de dúvida sobre novo aumento de 0,5 ponto percentual, os dois voltaram atrás. “O IPCA de maio significativamente acima do esperado e a sinalização da ata de hoje nos convenceram de que o ciclo de aperto monetário deve continuar na próxima reunião do Copom. Esperamos agora uma nova alta de 0,50 p.p. em julho, levando a taxa Selic para 14,25%”.

De fato, não há como ignorar o tom conclusivo da ata do Copom. Mesmo assim, ficou registrada a preocupação de Goldfajn e Megale com os rumos da economia. Ontem, em entrevista ao “Valor”, o economista-chefe do Banco Santander, Carlos Kawall, bateu na mesma tecla ao afirmar que “não faz sentido subir os juros e fazer algo acima do normal apenas pela reputação do Banco Central”. Para Kawall, o Brasil enfrenta a maior queda do PIB desde o Plano Collor e “o desafio agora é crescer”. Com a atividade econômica travada, a atual dose de taxa básica, em torno de 14%, parece mais do que suficiente. Mas não é este o teto da dupla Joaquim Levy-Alexandre Tombini.