Panamá acelera expansão com
obras e multinacionais
Com uma agressiva
política de atração de empresas estrangeiras e a expansão do Canal do Panamá, o
país deve crescer este ano mais de 6%. Uma taxa menor do que obteve nos últimos
anos, mas quase o dobro do previsto para a média da América Latina
Nicola Pamplonanicola.pamplona@brasileconomico.com.br
Cidade do Panamá, Panamá - No imponente edifício do shopping Soho Mall,
na Cidade do Panamá, ainda se ouve o barulho de máquinas e homens trabalhando,
mas já é possível visitar lojas de algumas das grifes mais conceituadas do
planeta, como Burberry, Prada e Carolina Herrera. Inaugurado oficialmente há um
mês, o complexo — que inclui um hotel e escritórios — é o segundo centro de
vendas de artigos de luxo na cidade e reflete o impressionante crescimento do
país nos últimos anos. Apesar da crise que assola as maiores economias da
região, o PIB do Panamá fechou 2014 com alta de 6,3% e deve repetir o resultado
este ano, segundo estimativas da Comissão Econômica para América Latina e
Caribe (Cepal).
O bom desempenho é resultado da combinação entre o gigantesco projeto de
ampliação do Canal do Panamá, investimento de US$ 5,2 bilhões e cerca de 100
mil empregos diretos e indiretos, e uma política agressiva de atração de
multinacionais. Com isenção de impostos para empresas e seus empregados
estrangeiros, o Panamá conseguiu atrair, desde 2007, mais de 100 sedes
regionais de companhias de variados portes e áreas de atuação, como P&G,
Otis, ABB, Adidas, Hyundai e Philips. No ano passado, a dinamarquesa Maersk,
por exemplo, deixou São Paulo para concentrar a gestão de suas operações
latino-americanas no país.
“Faz muito sentido estar em um local onde se pode conectar com o mundo
todo. Além disso, é um país com crescimento sustentado e economia dolarizada.
Não precisamos ficar todo o tempo verificando como está o real ou o peso”, diz
a gerente da Philips Lighting para o norte da América Latina, Nadia Cáceres. A
empresa transferiu sua sede da Colômbia em dezembro de 2013, atraída pelas
condições oferecidas pelo programa Sede de Empresas Multinacionais (SEM). “Os
expatriados não pagam impostos e, por isso, é mais fácil atrair gente
qualificada”, explica ela, que é natural do Panamá.
Além das vantagens tributárias, o país conta com uma boa infraestrutura
financiada pelos norte-americanos, responsáveis pela construção do canal há 100
anos. Além de dois grandes portos, um em cada Oceano, há cinco cabos submarinos
de fibra ótica que garantem boa qualidade nas comunicações. Considerado um dos
principais hubs marítimos do continente, com grande movimentação de carga ao
longo do Canal do Panamá, o país vem ganhando também importância no transporte
aéreo, com o esforço para transformar o Aeroporto Internacional de Tucumen em
um centro distribuidor de passageiros pelas Américas, com mais de 130 voos
diários para 24 países.
Dados do Instituto Nacional de Estatística e Censo (Inec) mostram
crescimento expressivo no investimento direto, que bateu US$ 4,6 bilhões em
2013 (alta de 71% com relação a 2010), e no PIB per capita, que subiu de US$
6,9 mil para US$ 8,7 mil no mesmo período. A atração de empresas tem gerado
grandes oportunidades para a construção civil, como se nota pela quantidade de
edifícios em construção na capital, a maioria arranha-céus no estilo Dubai. O
desemprego, porém, embora baixo (3,5%), vem apresentando alta desde 2011,
quando bateu no piso de 2,9%.
Apesar de melhores do que as médias da região, os indicadores de
desemprego e PIB sugerem uma desaceleração do crescimento e apresentam desafios
para os próximos anos, dizem especialistas. O país chegou a registrar
crescimento superior a 10% nos dois primeiros anos da década. Com o fim das
obras previsto para este ano, cerca de 8,6 mil trabalhadores diretos serão
desmobilizados. Além disso, a Zona Franca de Colón, no porto localizado no
Oceano Atlântico, tem sofrido impactos da crise econômica de seu maior cliente,
a Venezuela.
O país espera manter o ritmo de crescimento com um plano de
investimentos de US$ 6,3 bilhões em infraestrutura nos próximos cinco anos, que
poderia manter ocupada parte da mão de obra que será dispensada das obras do
canal. Na lista de projetos, estão a ampliação da linha 1 e a construção de uma
nova linha de metrô e um sistema de transporte de massa para Panamá Oeste, um
dos centros de negócios que surgiram na esteira do desenvolvimento dos últimos
anos. Além disso, projeta US$ 1,2 bilhão em incentivos à produção agropecuária
e na construção de novas linhas de transmissão de energia, um dos principais
gargalos logísticos do país.
O principal motor da economia, porém, deve continuar sendo o transporte
marítimo. Atualmente, a logística representa 26% do PIB do país, diz o
vice-presidente de Desenvolvimento Comercial da estatal Canal de Panamá, Oscar
Bazán. A Canal de Panamá tem uma receita anual de US$ 2,6 bilhões com as
tarifas cobradas sobre os navios que cruzam os 80 quilômetros do canal, que
varia entre US$ 78 e US$ 80 por TEU (medida de capacidade de transporte de
contêineres). No ano passado, o lucro foi de US$ 950 milhões.
Ao fim da obra, diz Bazán, a empresa planeja construir um pátio
logístico e um terminal de gás natural liquefeito (GNL), para distribuição
entre os países importadores da região, como o Chile. “Com as novas eclusas, o
canal poderá ser usado como uma rota para o GNL. Hoje, os navios não podem
passar aqui”, comenta o executivo. O país prepara ainda a licitação de um novo
terminal portuário na capital, chamado Porto Corozal. O terminal atual, chamado
Porto de Balboa, é operado pela Hutchison Whampoa, originária de Hong Kong. A
licitação deve ser realizada ainda este ano e já tem como interessada a APM
Terminals, do grupo Maersk.
Na última sexta-feira, operários da obra de expansão do Canal do Panamá
começaram as escavações do trecho que vai ligar o terceiro conjunto de eclusas
na região de Miraflores, na capital do país, ao Oceano Pacífico. O cronograma
atual prevê que, em setembro, a nova instalação seja alagada. Antes, ainda este
mês, procedimento semelhante será feito na outra ponta do canal, às margens do
Atlântico. Com a inauguração do projeto, prevista para abril do ano que vem, o
país espera ampliar suas receitas e atrair novas empresas.
Novas eclusas começam a ser alagadas
este mês
Todos os números referentes à obra são superlativos: são 4,4 milhões de
toneladas de cimento, 192 mil toneladas de aço e, hoje, 8,6 mil trabalhadores —
durante o pico, chegaram a 10 mil. O investimento de US$ 5,2 bilhões vai
permitir a passagem de navios com até 50 metros de largura, contra os 32 metros
atuais. A expectativa é ampliar a capacidade do canal dos atuais 38 a 42 navios
por dia para até 54 navios por dia. Para isso, a estatal Canal de Panamá criou
uma espécie de programa de fidelidade, no qual as tarifas são inversamente
proporcionais ao tamanho do navio.
“Acreditamos que, do Brasil, o que está acima de Recife, pode usar o
canal para chegar ao mercado asiático”, diz o vice-presidente de
desenvolvimento de negócios da companhia, Oscar Bazán, citando mineradoras com
atividades na Amazônia como clientes que podem elevar a utilização. Há
expectativa também de um aumento no fluxo de soja brasileira, que começa a ser
escoada pelo corredor Norte.
A movimentação de contêineres, porém, deve permanecer nas rotas atuais
(da Ásia ao Porto de Santos pelo sul da África), avalia Julián Fernandez,
gerente-geral de desenvolvimento de negócios da APM Terminals. “É uma rota
competitiva”, diz.
O repórter viajou a convite da Maersk