IPCA deve atingir pico de
9% em julho
Após surpresa dos
alimentos em maio, analistas apostam em nova alta da Selic para controlar a
inflação e mais impactos da energia
Aline Salgado aline.salgado@brasileconomico.com.br
Rio - A alta dos alimentos em maio — provocada pelas chuvas e que
surpreendeu o mercado — levou a inflação do mês para uma aceleração atípica
para o período, de 0,74%. Com o avanço, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) dos 12 meses chegou aos 8,47%, patamar que não era visto desde dezembro
de 2003, quando atingira 9,3%, segundo a série do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Para analistas, no entanto, o pior ainda está
por vir. Embora os alimentos entrem em um período de desaceleração, podendo
chegar à deflação, os reajustes anuais de energia elétrica se manterão firmes,
chegando até os 15%, como em São Paulo, o que pode levar o IPCA nos 12 meses ao
pico de 9%, já em julho. A saída será um maior aperto do Banco Central (BC),
com a Selic podendo chegar aos 14,5% até o fim do ano.
Em maio, o IBGE identificou o forte avanço dos preços dos alimentos in
natura. Com a cebola alcançando variação de 35,59%, o tomate em 21,38% e a
cenoura em 15,90% — entre as principais altas —, o grupo alimentos e bebidas
passou de uma expansão de 0,97% em abril para 1,37%, em maio. Economista da
Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), André Braz vê uma espécie de deslocamento
da sazonalidade, mas que não deve trazer novas surpresas para junho, julho e
agosto.
“Houve um comportamento atípico no mês, mas esse movimento de alta nos
preços dos alimentos não muda a crença de que, entrando o inverno, eles caiam.
Os aumentos acontecem em lavouras curtas. Quando o preço sobe, incentiva os
produtores e, logo, o mercado está encharcado de produtos, levando os preços a
caírem”, explica Braz.
“É esperado que as carnes, pelo crescimento das exportações, e os pães,
com o trigo pressionado pelo câmbio, mantenham-se elevados. Mas isso deve
influenciar o IPCA de junho de forma moderada”, acrescenta o economista.
Em função da base estatística bastante baixa, julho deve ficar marcado
pelo pico da inflação nos 12 meses, chegando aos 9%, como aponta o economista
do Itaú Unibanco, Elson Teles. “Em julho de 2014 o IPCA mensal ficou em 0,01%.
Logo, qualquer alta acima disso será suficiente para fazer a inflação bater os
9%. Mas não vai permanecer nesse nível ao longo do ano”, ressalta Teles, que
não descarta a pressão do reajuste anual de energia em São Paulo, a ser
concedido no mês pela Agência Nacional de Energia Elétrica ( Aneel) à
Eletropaulo. Aumento que, para o diretor executivo do Grupo Safira Energia
Mikio Kawai Jr., pode chegar até os 15%.
“Um reajuste bastante significativo, considerando o peso de São Paulo
sobre o IPCA. Além disso, espera-se que esse aumento venha acima da média
esperada para as demais distribuidoras”, avalia Kawai Jr..
Em maio, os reajustes anuais na conta de luz em seis regiões
metropolitanas analisadas pelo IBGE levaram a inflação da energia a uma
expansão de 2,77% — a maior contribuição individual no IPCA, responsável por
0,11 ponto percentual do índice do mês. Além de São Paulo, são esperados novos
aumentos em cinco das regiões que participam da análise do IPCA pelo IBGE.
“Percebo que a tarefa do governo em deixar a inflação mais próxima do
teto da meta está cada vez mais longe. Projetamos a inflação de julho menor que
a de junho, em 0,30%, mas com viés de alta, que dependerá do reajuste da
energia”, ressalta o economista da Austin Rating, Wellington Ramos.
Para o economista, os dados da inflação de maio farão o BC rever sua
política de alta de juros para um aperto ainda maior. “Talvez, tenha-se que se
dar uma dose maior de juros para que o resultado sobre os preços livres
compensem a elevação dos administrados. Ou o BC utilizar outros instrumentos,
como o aumento da taxa sobre depósitos compulsórios”, afirma Ramos.
Para o economista da Gradual Investimentos André Perfeito, o IPCA de
maio sinaliza que o BC pode seguir com a alta de juros para até os 14,5% ao
ano. “O BC terá que subir os juros além do que o mercado espera”, avalia.