quinta-feira, 11 de junho de 2015


IPCA deve atingir pico de 9% em julho

Após surpresa dos alimentos em maio, analistas apostam em nova alta da Selic para controlar a inflação e mais impactos da energia

Aline Salgado aline.salgado@brasileconomico.com.br

Rio - A alta dos alimentos em maio — provocada pelas chuvas e que surpreendeu o mercado — levou a inflação do mês para uma aceleração atípica para o período, de 0,74%. Com o avanço, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dos 12 meses chegou aos 8,47%, patamar que não era visto desde dezembro de 2003, quando atingira 9,3%, segundo a série do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para analistas, no entanto, o pior ainda está por vir. Embora os alimentos entrem em um período de desaceleração, podendo chegar à deflação, os reajustes anuais de energia elétrica se manterão firmes, chegando até os 15%, como em São Paulo, o que pode levar o IPCA nos 12 meses ao pico de 9%, já em julho. A saída será um maior aperto do Banco Central (BC), com a Selic podendo chegar aos 14,5% até o fim do ano.

Em maio, o IBGE identificou o forte avanço dos preços dos alimentos in natura. Com a cebola alcançando variação de 35,59%, o tomate em 21,38% e a cenoura em 15,90% — entre as principais altas —, o grupo alimentos e bebidas passou de uma expansão de 0,97% em abril para 1,37%, em maio. Economista da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), André Braz vê uma espécie de deslocamento da sazonalidade, mas que não deve trazer novas surpresas para junho, julho e agosto.

“Houve um comportamento atípico no mês, mas esse movimento de alta nos preços dos alimentos não muda a crença de que, entrando o inverno, eles caiam. Os aumentos acontecem em lavouras curtas. Quando o preço sobe, incentiva os produtores e, logo, o mercado está encharcado de produtos, levando os preços a caírem”, explica Braz.

“É esperado que as carnes, pelo crescimento das exportações, e os pães, com o trigo pressionado pelo câmbio, mantenham-se elevados. Mas isso deve influenciar o IPCA de junho de forma moderada”, acrescenta o economista.

Em função da base estatística bastante baixa, julho deve ficar marcado pelo pico da inflação nos 12 meses, chegando aos 9%, como aponta o economista do Itaú Unibanco, Elson Teles. “Em julho de 2014 o IPCA mensal ficou em 0,01%. Logo, qualquer alta acima disso será suficiente para fazer a inflação bater os 9%. Mas não vai permanecer nesse nível ao longo do ano”, ressalta Teles, que não descarta a pressão do reajuste anual de energia em São Paulo, a ser concedido no mês pela Agência Nacional de Energia Elétrica ( Aneel) à Eletropaulo. Aumento que, para o diretor executivo do Grupo Safira Energia Mikio Kawai Jr., pode chegar até os 15%.

“Um reajuste bastante significativo, considerando o peso de São Paulo sobre o IPCA. Além disso, espera-se que esse aumento venha acima da média esperada para as demais distribuidoras”, avalia Kawai Jr..

Em maio, os reajustes anuais na conta de luz em seis regiões metropolitanas analisadas pelo IBGE levaram a inflação da energia a uma expansão de 2,77% — a maior contribuição individual no IPCA, responsável por 0,11 ponto percentual do índice do mês. Além de São Paulo, são esperados novos aumentos em cinco das regiões que participam da análise do IPCA pelo IBGE.

“Percebo que a tarefa do governo em deixar a inflação mais próxima do teto da meta está cada vez mais longe. Projetamos a inflação de julho menor que a de junho, em 0,30%, mas com viés de alta, que dependerá do reajuste da energia”, ressalta o economista da Austin Rating, Wellington Ramos.

Para o economista, os dados da inflação de maio farão o BC rever sua política de alta de juros para um aperto ainda maior. “Talvez, tenha-se que se dar uma dose maior de juros para que o resultado sobre os preços livres compensem a elevação dos administrados. Ou o BC utilizar outros instrumentos, como o aumento da taxa sobre depósitos compulsórios”, afirma Ramos.

Para o economista da Gradual Investimentos André Perfeito, o IPCA de maio sinaliza que o BC pode seguir com a alta de juros para até os 14,5% ao ano. “O BC terá que subir os juros além do que o mercado espera”, avalia.