Crise na construção provoca
liquidação de máquinas pesadas
Sob efeito da
desaceleração econômica e da Operação Lava Jato, mercado de máquinas para
construção civil busca alternativas para evitar tombo nas vendas em 2014
Nicola Pamplonanicola.pamplona@brasileconomico.com.br
Garantia estendida, consórcios e financiamento com bancos de montadoras:
essas são algumas das estratégias que vêm sendo reforçadas pelas empresas de
máquinas pesadas para construção civil para tentar sobreviver à crise que se
instaurou no setor a partir do final do ano passado. Assim como as montadoras
de automóveis, as grandes fabricantes de máquinas buscam oferecer facilidades
de compra a um cliente que sofre com a falta de crédito e de encomendas e com
os impactos da Operação Lava Jato sobre as maiores construtoras brasileiras. Os
números variam de empresa para empresa, mas a expectativa de queda nas vendas
em 2015 é sempre superior a 30%.
A crise do setor chega após um período de explosão nas vendas, quando
compradores tiveram que lidar com filas para adquirir equipamentos, que motivou
a abertura de uma série de novas fábricas no Brasil. “Há 10 anos, tínhamos um
mercado crescente e apenas 10 marcas. Hoje, são 40. Muita gente abriu fábrica
esperando grande crescimento”, diz Roque Reis, responsável pela área comercial
da Case Construction na América Latina. Ele lembra que, em 2009, o mercado
projetava vendas de 40 mil máquinas em 2014. Foram pouco mais de 25 mil.
Não há estatísticas consolidadas sobre a capacidade ociosa no setor, mas é consenso que os estoques estão elevados e pressionam os preços para baixo, apesar do aumento de custos no último ano. A grande maioria das fábricas opera com níveis reduzidos de utilização. Uma das últimas companhias a chegar ao Brasil, a coreana Hyundai, por exemplo, produziu apenas 2 mil unidades desde que inaugurou a fábrica de Itatiaia (RJ), em abril de 2013 — o equivalente a apenas 2/3 da capacidade instalada anual.
Não há estatísticas consolidadas sobre a capacidade ociosa no setor, mas é consenso que os estoques estão elevados e pressionam os preços para baixo, apesar do aumento de custos no último ano. A grande maioria das fábricas opera com níveis reduzidos de utilização. Uma das últimas companhias a chegar ao Brasil, a coreana Hyundai, por exemplo, produziu apenas 2 mil unidades desde que inaugurou a fábrica de Itatiaia (RJ), em abril de 2013 — o equivalente a apenas 2/3 da capacidade instalada anual.
Na feira M&T Expo, a maior da América Latina dedicada ao segmento, a
companhia lançou uma promoção de garantia estendida, dobrando o período para 3
mil horas de uso, em uma tentativa de atrair clientes. “As oscilações do
mercado reduzem a segurança no investimento. Nos próximos dois anos, pelo
menos, não vamos investir na expansão”, reconhece Felipe Cavalieri, presidente
da BMC Hyundai no Brasil. A unidade de Itatiaia custou à empresa US$ 200
milhões e foi projetada para chegar às 5 mil unidades por ano.
A maior oferta de financiamento pelos bancos próprios das montadoras é
outra alternativa que vem ganhando força neste momento de crise. Na Case
Construction, o financiamento próprio já responde por 60% das vendas, um
crescimento de 50% com relação ao verificado no ano passado. A empresa reforçou
ainda o incentivo ao consórcio para a aquisição de máquinas: a meta é fechar
2015 com 900 contratos fechados, quase o dobro dos 580 do ano passado e seis
vezes os 150 de 2013. “Os clientes tem tido dificuldade para aprovar
financiamento, porque está todo mundo alavancado. O consórcio funciona como uma
poupança e não aparece como dívida no balanço”, explica Reis.
A chinesa Liugong, última fabricante a iniciar atividades no país, em
Mogi Guaçu (SP) também trabalha em uma solução financeira para atrair os
clientes. Inaugurada em março, a fábrica tem investimentos de R$ 100 milhões e
capacidade para produzir, neste momento, 600 unidades por ano. Mas opera abaixo
da capacidade, admite Vander Freitas, diretor de operações da cadeia de
suprimento da empresa. “Estamos trabalhando em uma solução caseira de
financiamento, em parceria com bancos brasileiros e chineses para atuar como
banco de montadora”, adianta o executivo.
A falta de crédito é apontada em pesquisa sobre o setor como o segundo
maior problema este momento, perdendo apenas para o atraso de pagamentos. É
resultado das restrições ao crédito tanto pelo recuo do BNDES como financiador
quanto pelos respingos da Operação Lava Jato na percepção de risco do setor de
construção civil, principal cliente do segmento. A paralisação de obras da
Petrobras também contribui. “Há um ano, a Petrobras estava com 40% das minhas
máquinas. Hoje, não tem nenhuma”, diz um empresário de locação de equipamentos,
que preferiu não se identificar.
Representante do varejo, o presidente da revendedora Tracbel, Luiz
Gustavo de Magalhães Pereira, diz que a tendência de postergação de compras de
máquinas novas levou a um investimento maior no pós-vendas. “A frota atual terá
uma utilização maior e vai precisar de mais manutenção”, argumenta. Além disso,
a empresa buscou parcerias com fabricantes de equipamentos para outros setores,
como mineração e agregados da construção civil, para diversificar a carteira de
clientes. “Estou no setor há 19 anos e este é o primeiro em que fazemos
projeção de queda nas vendas”, comenta o executivo.
O pacote de concessões anunciado esta semana pelo governo é visto como
uma luz no fim do túnel, mas com resultados apenas no médio prazo. A percepção
geral é que, primeiro, os estoques serão desovados. A retomada da capacidade de
produção só deve ocorrer em meados do ano que vem. O segmento produz os
equipamentos necessários para grandes obras civis, como escavadeiras,
motoniveladoras, pás carregadeiras, além de máquinas para concreto, guindastes
e equipamentos para mineração. Nos últimos dois anos, foi beneficiado por um
programa do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) para modernizar a frota
de pequenos municípios, que encomendou quase 10 mil máquinas.
O programa é citado por Cavalieri como a principal motivação para o
investimento da Hyundai no Brasil. No pico, a empresa chegou a produzir 800
unidades em um mês, com uma força de trabalho de 700 pessoas. Com a crise, o
número de trabalhadores foi reduzido a 400. “Depois de cinco anos de
crescimento constante, estamos passando por um período de ajuste do mercado.
Mas não é o primeiro e nem será o último”, resume Afrânio Chueire, presidente
da Volvo CE para a América Latina.