sexta-feira, 12 de junho de 2015


Universidades à mingua

Não é possível ficar indiferente diante das condições difíceis a que são submetidos professores, alunos e funcionários das faculdades públicas

Octávio Costaocosta@brasileconomico.com.br

Enquanto os ministros Mangabeira Unger e Renato Janine Ribeiro discutem em jantar o futuro da Educação em nosso país, as universidades federais continuam mergulhadas em enorme incerteza, vítimas que são do fenômeno de precarização do ensino público. No Estado do Rio de Janeiro, a situação é crítica. Na Uerj, ao lado do Maracanã, os estudantes suspenderam as aulas na tarde de quinta-feira para debater o impasse provocado pela decadência estrutural e pelo atraso no pagamento das empresas prestadores de serviços. Na UFF, de Niterói, professores, alunos e funcionários decidiram, em assembléia geral na terça-feira, manter a paralisação iniciada há quinze dias. Os grevistas ressaltam que, mesmo que a greve unificada não tivesse sido deflagrada, “a UFF estaria parada”. Mas “parada por falta de verbas”.

Desde o ano passado, as universidades sofrem com a liberação de verbas a conta gotas. Mas, de janeiro para cá, o quadro agravou-se. E muito. Os relatos que chegam a nós, jornalistas, são desoladores. E causa espanto o silêncio das autoridades. Mangabeira Unger, mentor do projeto da “Pátria Educadora”, e o ministro Joaquim Levy, da Fazenda, orgulham-se de manter ligações com as universidades em que estudaram nos Estados Unidos. O primeiro é professor de Harvard e o segundo marca presença nos encontros de ex-alunos de Chicago. São universidades privadas, mas é inexplicável, para quem se beneficiou dos padrões de excelência norte-americanos, ficar de braços cruzados diante das condições de higiene e de segurança a que são submetidos professores e alunos no Brasil.

Certamente, os ministros dedicam-se a assuntos que consideram mais prementes. Mas não custa nada mantê-los informados. Leia-se, por exemplo, um trecho da carta da direção da Escola de Engenharia da UFF à comunidade acadêmica:

- Nosso estoque de papel para provas e xerox está no final;
- Nosso estoque de lâmpadas para suprir os projetores de datashow se esgotou;
- Nosso material de limpeza, incluindo papel sanitário, também chegou ao fim, pois, com a dificuldade que tem tido para receber suas faturas, a firma terceirizada de limpeza reduziu gradativamente o fornecimento de material;
- Com a drástica redução de nossos recursos de receita própria, não estamos tendo como prosseguir com a manutenção nos aparelhos de ar condicionado, pois a empresa que executa os referidos serviços está sem receber;
- Estamos sem recursos para confeccionar carimbos, chaves para portas das salas de aula e laboratórios, para aquisição de material para reposição de lâmpadas, material de iluminação, material hidro-sanitário, material de pintura, material de carpintaria, equipamentos de multimídia etc.;
- Equipamentos como elevadores e máquinas de reprografia (xerox) estão funcionando precariamente, porque as firmas respectivas também estão sem pagamento;
- Também as firmas terceirizadas responsáveis pela vigilância, portaria, recepção e serviços administrativos estão com atraso em seus recebimentos”.

Eis a conclusão: “Diante desse grave quadro, todos podemos constatar que está muito difícil manter a Unidade funcionando em condições mínimas que sejam”. Ressalte-se que este diagnóstico vale para todas as demais faculdades da UFF, que recebeu apenas R$ 42 milhões do orçamento anual de custeio de R$ 144 milhões. Os reitores federais têm feito gestões em Brasília. Enquanto isso, as greves continuam.